para Naftali Herz Imber, com gratidão pelo hino da Alma Nacional Judaica
Ele desceu por entre raízes queimadas,
com o cheiro de enxofre nas narinas
como se fosse cevada apodrecida,
ou os ossos antigos de um touro em abate.
Nada de chamas dançando em pilares.
Só lama. Lama e gemido.
E, às vezes, uma risada estilhaçada
como vidro pisado no breu.
Blake caminhava com botas de couro cru,
o casaco rasgado, olhos em brasa —
não da ira, mas do espanto —
como quem vê o ventre da terra
abrir-se feito livro.
No fundo, uma fornalha onde homens
sopram os próprios nomes em ferro derretido.
Um anjo sem asas girava uma roda de tortura
com dedos finos demais para a tarefa.
E Blake, o do tigre e da inocência,
não recuou. Desenhou com o dedo sujo
um querubim na parede de pedra.
E disse:
“Mesmo aqui, a alma canta.
Mesmo aqui, há luz escondida
nas pálpebras do monstro.”
E por um momento, os gritos cessaram.
Como se o inferno, espantado,
escutasse.
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