Na cova alta das Montanhas de Cinza, sob o véu eterno das névoas que nunca se dissipam, ressoa a voz de um antigo ser — um murmúrio de fogo gasto, ecoando como trovão longínquo entre os ossos do mundo. E se alguém, por loucura ou encanto, ousasse se aproximar, ouviria estas palavras, lentas como lava em declive:
"Ai, como pesa o tempo sobre minhas escamas, que outrora brilhavam como mil espadas erguidas sob o sol da alvorada. Onde está o fulgor dourado do meu peito? Onde, a mordida cruel dos meus dentes que rachavam torres e reinos? Tudo escureceu, tudo silenciou."
"Os homens agora não temem mais os céus. Voam em suas máquinas tolas, crendo terem vencido os ventos. E os elfos? Ah, os elfos já se retiraram, levando consigo as canções que embalavam meus sonhos em milênios passados. Até os anões esqueceram meus nomes. Já não cunham moedas com minha face. Já não tremem ao ouvir bater de asas."
"Meus ossos rangem como portas esquecidas, e o fogo em meu ventre dorme, preguiçoso, um calor de brasas mornas, não mais o rugido que incendiava batalhas. Até mesmo meu tesouro — meu ouro, meu orgulho — perdeu o brilho para mim. É apenas metal frio, morto, sem a música da cobiça que o fazia vibrar."
"Sou uma sombra da sombra que fui. E, no entanto, ainda sonho. Ainda escuto, no silêncio profundo da noite, os passos de reis tolos, guerreiros que acreditam poder roubar o que nunca entenderam. Ah, que venham! Que tentem!"
"Pois mesmo velho, mesmo esquecido, mesmo gasto pelo mundo e por mim mesmo, sou dragão. E até o último lampejo da última estrela, minha fúria dormirá com um olho aberto. Que se lembrem disso."
E então o som cessava, e as montanhas voltavam ao seu sono cinzento. Mas os ventos, sempre atentos, levavam a queixa do velho dragão — como aviso, como lamento, como lenda que ainda vive, embora cansada, embora quase esquecida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário