quinta-feira, 7 de novembro de 2024

KADISH

 

KADISH 

A luz, que estranha, entra-me pelo nariz e pela boca.

Já não choro, porque não há lágrimas,
Nunca houve muitas lágrimas para dar
A esse mundo hipócrita e fingido que apenas

Existe por pouco tempo para Deus e por Deus.
Esse será o último primeiro poema que faço.
Eu, que li Elias Canetti e José Saramago
Sentado diante da lareira da minha imaginação.

Que perversidade de pessoas! Deus,
E que silêncio este o teu que me impele
De dor a latejar por dentro do coração.
Eu que escrevo essas palavras em silhuetas

Silhuetas de fantasmas, fantasmas de
Animais e insetos que fogem diante da morte.
Óh morte que persegue a todos,
Não só os homens.

Ó futel matéria, como chamou-te o grande
E último sábio de Portugal Fernando Pessoa.
Tu, ó homem, meu igual, que achas que
O tesouro do teu dinheiro vai te salvar

Da sepultura, mesmo sabendo que vais
Morrer, e que eu vou morrer, e que todos
Vamos navegar em direção ao navio da
Sepultura, esse navio que Gil Vicente

Fez questão de relembrar em suas peças,
E que Ariano Suassuna também lançou
Ao vento da imaginação Armorial para
Que a fé fosse a salvação das rimas do Sertão.

Sertão esse que é São Paulo,
Sertão esse que é o meu coração empedrado de
Tanta tristeza e de tanta dor,
Ao vislumbrar esse mundo

Vasto e inútil que está só.
Só, e o silêncio nos arrodeia. 
É o holocausto, as vozes dos horrores,
As guerras, as promessas de vida eterna.

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