segunda-feira, 19 de outubro de 2020

CANÇÃO DO FILHO DE AUDUMBLA

 


Que outros campos teria ela para ir,

Longe do frio e do gelo, onde dormia

A minha face, barbuda e fria?

Audumbla, não pôde me parir;

Apenas o sal lambeu sem melancolia.


Meus ossos duros de pedra lá estavam

Formados pelo gelo sem leite das estrelas.

Nos meus sonhos, meus beijos queimavam as deusas

Nórdicas, alvas e esbeltas, que contra mim lutavam.

Abri os olhos com as últimas lambidas.


Levantei minhas mãos pedregosas

Porque fogo no cérebro eu tinha.

Apanhei a lua como uma pedrinha,

Fiz com ela uma espada de luzes formosas.

Do sol fiz uma manta de fina linha.


Ficou o meu destino de assim ser lembrado,

Lambido por uma vaca, assim fui criado; do gelo

Meu corpo fez um elmo de degelo.

A forma de minha criadora me torna em véu desesperado.

Revoltoso, lanço uma pedra contra as luzes douradas do castelo.

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