quinta-feira, 15 de junho de 2017

A estrada



A estrada: por que se vai?
se vai e não volta, vai e volta,
nunca chega, nunca aonde,
nunca quando, nunca quê.

E some no meio do relâmpago,
desaparece na sombra, na névoa,
nos olhos orientais, nos olhos,
mapas, meio quilo de alimento,
como se o sumiço do que é
fosse explicado pelos pequenos
gafanhotos que não cantam nem
colhem milho, pelos gravetos
que são tímidos, desamparados,
pelos bovinos imóveis, presos no
tempo da grama, na areia.

E a estrada sempre chega,
volta a chegar, recomeça a chegar.
Chega e não chega, atravessa
o arco-íris, o metal, a chuva,
volta a ser poema, volta a ser pó,
entra nos olhos do cego, no canto
do pássaro solitário, vaga rincões,
estremecidas palavras, idiomas
esquecidos no meio do arbusto.

E nunca é
e nunca finda
e nunca começa
e nunca regressa.

É sempre o começo.
É sempre a volta do marfim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário