ENSAIO
Aqui vivo em frente dessa caverna essa tela: a pensar, pensar, pensar. E para mim, pensar é meditar, ou orar, ainda que em ambos os contextos eu não saiba direito o que seja qualquer um dos dois. Faço pinturas assimétricas com linhas retilíneas, e isso é tudo. A ordem da linha reta é de uma beleza indelével e viva. Bom, devo deixar esse mundo a qualquer tempo, não é? Quem é daqui, desse mundo estranho. Mas as vezes é melhor não meditar em tais assuntos, e deixar que o coração esfrie um pouco. É verdade, meu caro senhor, eu sou frio por dentro e por fora, mas o frio que vêm do vento me congela os ossos quando retorno do meu serviço extenuante. Serei eu tão miserável que não sou digno de nenhuma pena? A tantos dias atrás voltei eu a escrever poesia, e isso me animou muito, embora a poesia e a pintura ou Poesia e a Pintura, como eu as gosto de chamar, estejam tão interligadas a minha alma (se é que eu sei o que raios seja alma, já que sou apenas um corpo, um corpo que vejo sendo os dos outros meus ancestrais que se foram, e eu irei para onde não sei, pois bem, e que serei o pó a terra a terra que o Senhor nos fez a sua imagem e semelhança etc como nos ensinam em todas as igrejas, embora eu não tenha frequentado nenhuma igreja apenas a Sinagoga da minha alma), que vejo que uma é a outra e não há nenhuma diferença. Pois bem, meu amigo rabino, chegou a hora de lançar mão a essa carta extenuante e sem sentido. E por que raios tenho que escrever ou pintar coisas com sentido se o mundo cá já não faz sentido? Indiferença, será, apenas quando o mel é amargo aos meus lábios e que a rosa por mais bela que seja contém espinhos assim o é Senhor Deus as nossas vidas de homens, aqui, fadados a comer dormir e beber da água e sentir as dores que essa estranha estrada chamada vida tece em nossa volta como a teia de uma aranha misteriosa etc e tal, e não sei mais o que eu iria dizer, sei que estou com sono e esse texto me sai desordenado. Deixo aqui para quem sabe alguém ler que em alguns instantes fui feliz e já não sou e essa é a eternidade e esse é o único ensaio possível. obrigado.
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