Foi há muito tempo,
e se chamava Neruda,
ave cantante, sonora,
belo espécime chileno,
nariz em figueira, vitrola,
olhos lentos como os espelhos
do mar, cantou tudo,
transpassou o tempo,
fugiu por cima e por baixo
lutou contra os assassinos da pátria
de todas as pátrias de todos os seres
cantou as coisas mais insignificantes
os seres mais pequenos,
e vimos e ouvimos o som de sua voz
anasalada o ronco do seu amor por suas amadas mulheres
e todos (porque não eu?)
quisemos ser como o pássaro neruda,
pousando nas flores, soletrando bosques,
atingindo corações sem vida,
dando ao vento a uva e a solidão terrestre
a faixa das coisas mais absurdas,
porque assim foi e porque assim quis ir,
soletrando ao tempo imóvel
a canção da chuva, o ronco do navio,
a saudade glaciais de todos os países,
e seguiu seu nome para todo sempre
remoto como as montanhas andinas,
perplexo como todos os guitarristas
eternos.
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