Mikáely Miklóvs andava aflita, quando chamou Kawick para dizer-lhe o que necessitava. Sentaram-se observando um sobre o outro.
_ O que tens para me dizer Mikáely? Não são outras baboseiras sobre as suas purezas de mulher, são?
_ Não... não te chamei para isso... - começou ela dizendo, com sua voz doce, toucante, de mulher classicizante. - eu queria lhe dizer que um sobrinho meu virá vir para cá, para esse mundo, e é bom que ele fique bem.
Kawick observou a porta, a tempos que não conversava com ela sobre assuntos famíliares.
Perdera os interesses sobre tudo: sobre o negócio (era um rico comerciante, descendente de fabulosos turcos riquíssimos, que da Rússia emigraram para o norte do Egito e do Egito decidiram-se por se estabelecerem em um país imenso e tropical que em geografia interessava há anos o senhor Acar Ebediyet). Kawick Ebediyet observou o imenso lustre, retirou os óculos de cima da mesa, enquanto Mikáely prestava nobre a atenção em seu gato dourado. Colocou os óculos sobre os olhos, e passou a ler as notícias do jornal. Enjoou tão rápido, que se colocou de pé.
_ Vou subir... Logo desço!
_ Logo ele chega. - falou-lhe ela. - É bom que você não se esqueça!
_ Não... Deixe... Eu não vou me esquecer!
Subiu.
Logo desceu novamente, rangendo as escadas, observando com sinceridade o lustre que balançava solitário por cima do teto. "Eu sou esse lustre..." "Não, não, não. O que é que eu queria mesmo dizer naquele momento para ela, antes d' la me chamar para ir me avisar a chegada do sobrinho... Não me lembro: esqueci!" Pensou ele, observando a noite que chegava. Gostava de astrologia, lhe era simpático o povo da cidade. O turco rico, olha lá, nem olha para a nossa cara, coitado, vive com aquela louca, coitado, tem de tudo e não é feliz, coitado, é um cachorro, um simples objeto, melhor seria se tivesse voltado pra terra junto com a mãe, coitado, é um atorzinho de quinta, coitado, só anda com os ricos-ricos-ricos das terras dele, coitado, ele dá uma boa gorjeta, o que acham dele? É culto. Não tenho nada contra ele... é uma boa pessoa: é turco, vem lá da Turquia. Eu conheci o pai dele, antes era médico, decidiu optar pela carreira de comerciante assim que morrera-lhe o pai do pai do pai dele. O pai dele era um tremendo comerciante: conheceu o presidente, conseguiu-lhe regalias. Esse é um estudado. Se deu bem. Só está com essa doidinha ai, essa estranha!
E quem entenderia o amor dele por Mikáely Miklóvs? Além dele mesmo com ela. Mulher difícil, dama ousada, linda, bela, domadora. De forma e formosuras únicas, enormemente pura. Se ela soubesse que o amor que ele tinha por ela estava se acabando, se esfumaçando a chama pura da paixão. Assim ele voltou a descer a escada, observando o lustre, lá estava ela e o sobrinho. Tão estranho, tão menino, tão pequeno, olhos azuis. "Como ele se parece comigo. Pena que não seja eu". Cumprimentou o menino com um aceno de cabeça, não lhe gostava de cumprimentar os sobrinhos da mulher. Sentia-se estranho, como se fosse uma galinha prestes a entrar numa canja. E ficava ali, observando as pessoas, interessado com seu olhar bruto e negro de turco, com uma caneta preta na mão e um imenso caderno escuro, onde rabiscava suas estórias líricas sobre uma terra antiga que outrora era habitada por gigantes. Gostava de fantasiar, e como fantasiava as cochas belas de Mikáely Miklóvs, como fantasiava seus seios, suas nádegas por debaixo daquelas roupas grandes, imensas, aaaah, que vontade de ser do povo nesses momentos. E subia para o quarto, agarrava um livro triste e romântico e ia dormir, antes que ela entrasse pela porta. Noite, noite. Resposta de dois. Ela aflita, me perdendo, eu aflito perdendo ela. E o sobrinho dela no quarto... parente dela, distante...
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