Sou o navegante invisível
sou livre
vou
entre árvores e pessoas
vou pelas portas e pelas
janelas
atravesso ruas
com carros
com bois
com motos
sou os dois namorados
sou o velho emburrado
Sou o navegante invisível
não
tenho rumo
mais vou
não tenho casa
mais vivo em uma
não tenho amigos
mais todos me amam
não sou digno de nada
mais recebo ofensas e sorrisos
Sou o navegante invisível
vou pelas cidades
pelos prédios
vou pelos campos
entre animais e carrapichos
sou o que vê o azul do céu
o verde campo
a brisa conversa comigo
Sou o navegante invisível
não tenho nenhum inimigo
sou inimigo de tudo:
dos covardes e dos
presos, dos ladrões
dos assassinos, dos
políticos e dos amorosos
Meu Deus, como sou amigo de todos esses
ninguém me afronta a carteira,
ninguém me assalta a geladeira
(porque ela é vazia como minha alma)
Sou o navegante invisível
vou cantando sem ser ouvido
e quando me ouvirem me aplaudirei
porque sou invisível e tão visível
passo entre cachoeiras e montanhas
entre budas imensos de metais
e cristos enferrujados
nos jornais nais revistas nos livros
sou quem pensa e existo
sou o nada do invisível
sou um viajante esquisito
e digo: sou o Navegante Invisível.
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