segunda-feira, 8 de novembro de 2021

A revelação está próxima

Observe comigo aquela ruína[1],

Entrevejo o Céu e a Terra, unida.

Vejo sonhos e símbolos

E não me arrependo: eis-me feito.



O pássaro que voa e volta a ser cinza[2];

Amanheceu gelada neve e nas tetas

De uma vaca[3] lambendo o bloco de sal,

Que gigante ousa ser tão imortal?



Olha comigo, é o mesmo fim de antes[4].

Por que suspiram tantos os que

Não estão indo adiante?

Aquele sátiro sou eu, vacilante?[5]



Ornitólogo, olha comigo essa ilustração:

É Odin, barbudo e com uma coroa de prata[6],

Segurando uma lança na mão.

Que pássaros belos, de bicos encurvados,

Acompanham a figura, no ombro apoiados[7].



Mestre, não ardia o meu coração de ferro

Quando me explicava tu as Sagradas Escrituras?[8]

A mim tudo virou mistério,

E mesmo que eu continue com esse olhar sério,

Da ruína nasce um novo Templo[9].

 



[1] O poeta aqui vislumbra uma cena do livro bíblico de Apocalipse.

[2] A citação a ave Fênix sugere a ideia de que toda a Arte Poética é feita e desfeita, e volta a surgir conforme as épocas dos anos. Pois a Fênix é uma ave que retorna da cinza. Tem também um significado de que no Final dos Tempos haverá a ressurreição dos mortos.

[3] Essa vaca faz referencia a mitologia nórdica, onde a vaca primitiva  Auðumbla lambendo as pedras de geada salgada fez surgir Buri, que deu origem aos outros deuses de tal mitologia.

[4] O poeta aqui em fina ironia faz dizer que todas as culturas têm o seu próprio fim do mundo. E dessa, sua origem Judaica e seu fervor Cristão, sempre anunciou o fim dos tempos.

[5] Ao se comparar a um sátiro, o poeta afirma que a velhice natural ao homens é algo que não deixa muitos prosseguirem os seus sonhos.

[6] Odin, é o deus mais respeitado da mitologia nórdica. Geralmente ele é retratado como o rei dos deuses, e associado a sabedoria, a cura, e a morte.

[7] O poeta está observando uma ilustração de Odin, do ano de 1850.

[8] Novamente, citando a Bíblia, o poeta descreve a cena dos Discípulos de Emaús (Livro de São Lucas, 24-13).

 [9] O fim do mundo não é marcado apenas por destruição e sofrimento, e sim, renascimento Espiritual, e beleza arquitetônica, representada pelo Templo.


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