Observe comigo aquela ruína[1],
Entrevejo o Céu e a Terra, unida.
Vejo sonhos e símbolos
E não me arrependo: eis-me feito.
O pássaro que voa e volta a ser cinza[2];
Amanheceu gelada neve e nas tetas
De uma vaca[3]
lambendo o bloco de sal,
Que gigante ousa ser tão imortal?
Olha comigo, é o
mesmo fim de antes[4].
Por que suspiram tantos os que
Não estão indo adiante?
Aquele sátiro sou eu,
vacilante?[5]
Ornitólogo, olha comigo essa
ilustração:
É Odin, barbudo e com uma coroa
de prata[6],
Segurando uma lança na mão.
Que pássaros belos, de bicos
encurvados,
Acompanham a figura, no ombro
apoiados[7].
Mestre, não ardia o meu coração
de ferro
Quando me explicava tu as
Sagradas Escrituras?[8]
A mim tudo virou mistério,
E mesmo que eu continue com esse
olhar sério,
Da ruína nasce um novo Templo[9].
[1] O
poeta aqui vislumbra uma cena do livro bíblico de Apocalipse.
[2] A
citação a ave Fênix sugere a ideia de que toda a Arte Poética é feita e
desfeita, e volta a surgir conforme as épocas dos anos. Pois a Fênix é uma ave
que retorna da cinza. Tem também um significado de que no Final dos Tempos
haverá a ressurreição dos mortos.
[3]
Essa vaca faz referencia a mitologia nórdica, onde a vaca primitiva Auðumbla lambendo as pedras de geada salgada
fez surgir Buri, que deu origem aos outros deuses de tal mitologia.
[4] O
poeta aqui em fina ironia faz dizer que todas as culturas têm o seu próprio fim
do mundo. E dessa, sua origem Judaica e seu fervor Cristão, sempre anunciou o
fim dos tempos.
[5] Ao
se comparar a um sátiro, o poeta afirma que a velhice natural ao homens é algo
que não deixa muitos prosseguirem os seus sonhos.
[6]
Odin, é o deus mais respeitado da mitologia nórdica. Geralmente ele é retratado
como o rei dos deuses, e associado a sabedoria, a cura, e a morte.
[7] O
poeta está observando uma ilustração de Odin, do ano de 1850.
[8]
Novamente, citando a Bíblia, o poeta descreve a cena dos Discípulos de Emaús (Livro
de São Lucas, 24-13).
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