quinta-feira, 26 de abril de 2018

O artista



Eu nasci poeta e artista assim como aquele que nasce coxo, como o que nasce cego, como aquele que nasce formoso.
Lorca, poeta espanhol

Mas quem será que masca a mascará do boi
a língua a boca o sol o poente se encerrando
no oceano de duas bocas uma muralha enquanto
os beijos são tenebrosas tempestades em forma

de areia esmigalhada pelas formigas do outono.
Onde se vai sem as areias do mar querendo 
brilhar nos olhos cegos, ou nas mãos mancas
das palavras insinceras dos mercenários da indústrias?

Quando Lutero soube que os meus olhos
estavam assassinados nessa cidade sem luz
cuspiram nos meus pratos os desejos incolumes
e os vagabundos da serra ditaram dicionários herméticos.

Por ver minha alma se derretendo o natal
se adiantou e deixou seus braços me comoverem.
Enquanto colocavam fogo nos livros e nas pessoas
a embaixada do céu decretava o fim do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário