A mando do patrão
pastoreio nuvens secas.
As ervas do campo
me conhecem, porque
sou silencioso e oculto.
Bem longe alguns ramos
chocalham ao passar do vento.
O dia me queima a pele
me deixando moreno.
Vendo passar os carros
sobre a estrada morta de terra
me lembro do rosto dela
a minha amada primavera.
A mando do patrão
vou conduzindo o meu gado
feito de nuvens e solidão,
feito de tardes imensas.
Bem embaixo do meu sorriso
um rio de águas claras me atravessa.
Não sei se estou morrendo
ou se estou eternamente vivendo.
Uma mão pousa clara e branca
em meu ombro calejado.
E me diz com sorrisos físicos:
tudo isso é passageiro.
Primavera, verão, outono, inverno.
Consolação dos meus murmúrios.
Bem perto de mim está a vida
e bem perto de mim está a morte.
A mando do patrão
pastoreio as mariposas sem cor.
Estão desossadas como o sertão.
Mais brilham por causa do meu amor.
E o campo aberto sobre os meus olhos
me acena com certo ar de rancor:
não destruas minhas melenas
que são versos de amor.
A mando do patrão
pastoreio pequenos carrapatos
que pousam no corpo do abutre
que vejo voando tão alto.
Não separado a vida da morte.
Por isso me vejo com tanta sorte.
Encurralado nesse sonho vou
plantando os pequenos brotos que nascem.
A mando do patrão
recebo ordens e ódios.
Finalmente descanso minha cabeça.
Já não sou mais o empregado:
agora sou o teu próprio carrasco.
E acordo sobre a luz das borboletas!
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