Lembro da chuva caindo
sobre a casa. Lembro do
ruído das gotas como notas
tão lindas. Um dia tão frio,
um dia tão cheio de neblina.
A casa, a chuva, as flores que
tinha sobre o jardim em frente.
Que cor era a casa? Um tom
débil e gentil de beje. Acho,
na verdade, que era um tom
violento de felicidade e gentileza.
Havia uma dama-da-noite em frente à casa.
O menino pequeno se escondendo
da avó, fez com que a chuva se
tornasse lágrimas azuis. Azuis,
azuis como o céu ou azuis como
os olhos lacrimejados e azuis também, da avó?
O menino não lembra se chorou...
Talvez ele tivesse chorado.
Mais as lágrimas, como forma de
protesto, quiseram se esconder
na tempestade que caia sobre
a casa com tom débil de beje e
felicidade. O menino se escondeu
no arbusto verde e puro (mais
os olhos da avó eram azuis,
como o topázio azul). O menino
levou uma surra. Na verdade,
foram duas surras: a da mãe,
que não entendeu a poesia,
e a da chuva, que gota à gota,
o feriu de um frio transbordante.
O menino viu a avó chorando.
O menino não chorou. O menino
fugiu como um passarinho e se
escondeu ao lado do arbusto.
A avó misturou as lágrimas
com a chuva, com a chaleira.
A avó era a própria chuva. E o menino sabia disso.
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