A premissa da desnecessidade da guerra, postulada com veemência quase pueril, confronta-se com a fria e implacável realidade da condição humana. É, de fato, um óbvio que o motor por trás de tamanha destruição reside numa "grande maldade incalculavelmente insana, desumana, irracional". Esta "maldade" não é um mero conceito abstrato, mas a manifestação de pulsões primárias, profundamente arraigadas no inconsciente do Homo sapiens, que o levam à "destruição ao invés da construção da paz e da harmonia".
O adjetivo "animalesca" aqui é revelador, mas talvez impreciso. O animal, em sua natureza, age por instinto de sobrevivência, por territorialidade, por fome. Sua agressão é, em geral, funcional. No homem, contudo, a agressão transcende essa funcionalidade. Ela se torna sádica, gratuita, uma descarga de energia libidinal desviada e pervertida. A pulsão de morte, o Todestrieb, atua de maneira implacável, buscando reduzir a vida ao seu estado inorgânico, ao nada. A guerra, nesse sentido, é a mais grandiosa e devastadora sublimação fracassada dessa pulsão, onde a energia destrutiva é direcionada para o exterior em uma escala coletiva.
A "raça piolhenta em cima desse planeta a que nomeamos terra" é uma metáfora poderosa para a autoimagem depreciativa do homem, que, apesar de suas pretensões de racionalidade e civilidade, permanece um ser atormentado por conflitos internos e externos. O "animal perplexo e burro" a que se refere o observador revela a frustração diante da incapacidade do ser humano de transcender suas próprias sombras.
Enquanto essa estrutura psíquica fundamental persistir, enquanto o ego não conseguir mediar eficazmente as demandas do id (com suas pulsões agressivas e destrutivas) e as exigências do superego (que, paradoxalmente, pode justificar a guerra em nome de ideais morais ou éticos distorcidos), "a guerra será algo comum a qualquer um, mesmo a quem a ela se opunha". A oposição consciente à guerra, por mais louvável que seja, muitas vezes se choca com os estratos mais profundos do psiquismo humano, onde a agressão e a rivalidade encontram terreno fértil. A paz, sob essa ótica, é um estado precário, um breve armistício entre as incessantes batalhas internas e as inevitáveis projeções dessas batalhas no cenário mundial.
A guerra, então, não é apenas um evento histórico ou político; é uma manifestação trágica e cíclica da própria estrutura da alma humana.
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