sexta-feira, 15 de agosto de 2025

melodia para ela



teu sorriso é um ipê-amarelo

abrindo-se na manhã depois da chuva,

e eu, como um rio preguiçoso,

me curvo para refletir teu rosto.


teu corpo é a estrada vermelha

onde correm os ventos do cerrado,

e minhas mãos são caminhantes

que aprendem a geografia da tua pele.


tua voz —

ah, tua voz é o canto das araras

atravessando o céu azul de agosto,

um som tão livre

que até o silêncio se deita para ouvir.


quando caminhas,

as ondas do litoral nordestino

seguem teus pés,

e até as conchas se abrem

para deixar passar o sal do teu perfume.


teus olhos guardam

o verde secreto das matas de mangue,

onde o sol se esconde

apenas para brincar contigo.


e eu, simples homem,

te escrevo como quem planta

um jardim no peito:

sabendo que cada verso

pode florescer,

ou morrer de saudade,

dependendo do teu olhar.


se um dia fores

 embora,

levarei comigo teu rastro

como o vento leva o cheiro

das      frutas maduras no mercado —

uma melodia invisível,

mas para sempre brasileira.




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