Chamaram meu nome no palco.
As palmas soaram como chuva em telhado de zinco: altas, repetitivas, mas distantes.
A mulher que entregou o prêmio sorriu com a prática de quem já sorriu mil vezes no mesmo gesto.
Estendi a mão, segurei o objeto dourado, pesado, inútil.
Sorri para as câmeras, para a plateia, para ninguém.
Naquela noite, voltei para casa com o prêmio na mesa.
A televisão anunciava: “um reconhecimento merecido, um dos maiores escritores do nosso tempo.”
A frase soava falsa como o timbre metálico do próprio troféu.
O que sou eu?, perguntei-me.
Um escritor? Um homem? Uma invenção das editoras?
Um espelho que só reflete o olhar dos outros?
Na manhã seguinte, devolvi o prêmio.
Fui ao gabinete do ministro, entreguei a caixa, assinei um recibo.
Ele tentou rir: “é um gesto simbólico, não é?”
Não respondi.
Era apenas um gesto — e o gesto me bastava.
Começaram os artigos, as entrevistas, as análises sobre meu ato:
“um protesto político”,
“um grito estético”,
“uma doença mental”.
Não era nada disso.
Era apenas silêncio.
E ninguém entende o silêncio.
Deixei a cidade.
As ruas, os cafés, as vitrines de livros exibindo meu nome.
Subi montanhas, entrei em florestas, procurei um lugar onde a fala já não tivesse poder.
Encontrei uma caverna.
A primeira noite foi difícil: o frio, os animais, a solidão sem testemunhas.
Mas pouco a pouco, o escuro se tornou mais verdadeiro do que qualquer claridade.
E no fundo da caverna, sem voz, sem rosto, sem prêmio,
senti a presença daquele que sempre evitei:
o deus silencioso.
Não disse nada.
E, finalmente,
eu também não precisei dizer nada.
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