sábado, 23 de agosto de 2025

Elizabeth Bishop, mulher fria do norte

Elizabeth, mulher fria do norte,

teu olhar é um mapa desenhado

sobre águas cinzentas,

ilhas dispersas,

casas de madeira onde o vento nunca dorme.


Teu verso é bússola contida,

não grita, não se impõe —

aponta.

E no silêncio exato da tua escrita

há uma disciplina de neve,

uma claridade que corta.


Entre exílios e traduções,

constróis um lar provisório

em cada palavra.

E como quem observa

um peixe imóvel no aquário,

ou uma carta perdida no bolso de um casaco,

teu poema se inclina —

sob o peso leve do mundo.


Fria?

Fria como o mármore das catedrais,

como o azul que nunca se desfaz no horizonte.

Mas dentro do frio,

arde discreta

a chama que não pede testemunha.


Elizabeth, mulher fria do norte,

até o silêncio em ti

aprendeu a falar.



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