quarta-feira, 20 de agosto de 2025

A Coruja

— E aí, gata.

— Gata não. Sou coruja.

— Coruja?

— Só aparece de noite.


Risos.


— Você é branca demais.

— E você, preto bonito.

— Nunca fiquei com uma trans.

— Sempre tem a primeira vez.


Silêncio.


O bar quase fechando. Cheiro de cerveja choca.


— Bora?

— Pra onde?

— Um quartinho. Ali na Treze.


Ele olha pros lados, coração disparado.


— E se eu me apaixonar?

— Problema teu.


Caminham. Campinas escura, farol queimado, cachorro magro.


No alto do poste, a coruja pia.


A porta bate. O quarto engole os dois.



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