Campinas,
cidade fria sem neve,
fria de um vento seco,
que levanta o pó da sujeira
nos cantos da calçada.
O povo caminha —
não belo, não altivo,
mas pesado,
com olhos que desviam,
com rostos cansados
de ônibus e filas.
As ruas, porém,
guardam uma bondade estranha:
um cachorro dormindo ao lado da banca,
a sombra magra de uma árvore sobrevivente,
a conversa curta do jornaleiro
que ainda sorri sem motivo.
Feia?
Talvez.
Mas também verdadeira:
sua aspereza é sincera,
seu frio é de pedra,
seu calor — quando aparece —
é breve como um lampejo.
Campinas, cidade fria,
onde até a feiura respira,
onde até a sujeira
se torna um retrato
de tudo o que somos
quando ninguém nos olha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário