para nelly sachs
pelas areias do iêmen,
os pés deixam sulcos que o vento não apaga
as vozes sobem como incenso
carregando histórias gravadas
nas paredes da tenda e no sal da pele
nos pátios ensolarados de córdoba,
os sefarditas cantam em ladino
palavras que são chaves
para portas que o tempo trancou
e que só o amor ainda tenta abrir
nos campos gelados da polônia,
os asquenazitas acendem velas
que desafiam o sopro da neve
cada chama é um pequeno êxodo,
uma casa que se ergue no ar
iemenitas, sefarditas, asquenazitas —
três caminhos de pó e luz
três rios que bebem da mesma nascente
e que, ao se encontrarem,
reconhecem o gosto da água
o nomadismo é o sangue em movimento,
é a mala feita de silêncio e lembranças
é saber que, onde houver céu,
ali se pode rezar
e quando as canções se encontram,
o deserto, o jardim e a neve
cantam juntos —
diferentes e iguais,
como estrelas na mesma noite
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