quarta-feira, 13 de agosto de 2025

adamantina, cidade de aço


quanto mais longe...

mais amo...


adamantina acorda cedo,

o sol bate no metal das janelas

como martelo em bigorna.

o ar tem cheiro de oficina,

mesmo quando vem do campo.


as ruas não se curvam,

não hesitam:

vão retas como quem sabe

que perder tempo é pecado.


em berna, o tempo é um gato

que dorme ao sol no parapeito.

lá, o relógio não apressa,

acompanha.

o rio abraça a cidade

como quem embala um filho.


em adamantina,

o rio corta —

trabalha a pedra, fende a terra,

não canta para adormecer.

a cidade é feita de vozes que gritam ordens,

de mãos que não se distraem,

de suor que não pede licença.


mas há um conforto oculto,

uma espécie de ternura dura:

o calor do café servido na porta da fábrica,

o aceno breve ao vizinho,

o banco de praça onde se descansa

olhando o pôr do sol

que, mesmo sobre o aço,

se deixa tingir de ouro.


berna sorri com dentes de leite.

adamantina sorri com dentes de ferro.

mas ambas, no fundo,

sabem aquecer o peito de quem fica.



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