terça-feira, 12 de agosto de 2025

A LIGAÇÃO



para Openhheimer, o mestre DEFINITIVO!


No princípio,

o verso era poeira cósmica,

flutuando entre estrelas

e o hálito frio das distâncias.

A poesia

— como a astronomia —

mede silêncios com compassos de luz,

traça órbitas na carne da noite.

Os planetas são estrofes lentas,

as galáxias, livros abertos

sobre uma mesa que ninguém vê.

Mas há também o lado escuro:

bactérias multiplicando-se

em fendas invisíveis,

partículas dançando como profetas embriagados,

e a física, com sua régua de ferro,

tentando medir o incomensurável.

As Escrituras disseram:

— haja luz —

e houve fótons,

mas também matéria escura,

e as mãos que escreveram o Gênesis

são as mesmas que escrevem hoje

a equação da morte térmica do universo.

A astrologia, irmã perdida,

sussurra que somos mapas,

linhas e casas em rotação eterna,

e que a queda de uma estrela

pode ser também a queda de um homem.

No fim,

poetas e astrônomos

se encontram no mesmo deserto,

olhando o mesmo céu,

procurando na poeira de séculos

a voz que diga

que não fomos apenas

a respiração breve de uma bactéria

sobre a pele frágil de um mundo

que ardeu e se apagou.






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