(e pra quê ter imaginação? para usá-la!)
Primeiro o porto, depois a terra,
a areia, o mar, o oceano cravado
de pequenas mechas loiras e cinzentas,
a espuma, o trigo, a neve, o céu colhendo
pequenas metáforas no meio do tédio,
um imenso vazio no coração em forma
de biscoito, cimento, computadores.
O comerciante desembarca primeiro,
especulando as noções do vento,
a rede especulativa do petróleo,
o sol se pondo como um camelo
das arabias, uma canção ladina,
livros de outras pátrias submersas
em corrupções, lunetas, sátiras.
Depois as mãos transformadas
em dinheiro são mãos que viram palomas,
depois o sorriso feito de um
tédio agourento se torna um touro,
depois um pouco mais delicado
vem a brisa de uma formosa moça
depois vem o ar com silhuetas de
borboletas amarelinhas, depois a neve,
depois vem o dia seguinte
como se o dia de hoje não contasse
nenhum ponto na carteira do livro
de memórias.
Por fim vem a chuva lenta
de terras antigas, frias, esculpidas
por gigantes de antigas fábulas,
por mãos agrestes de camponeses,
feita pelo céu azul de Deus como um
imenso poema inscrito em hebraico.
Não seriamos expulsos para
todas as terras do norte e do sul?
Lembrando a voz dos profetas
e seus lamentos enquanto o rolo
da torá é desenrolado no meio da rua.
Uma lágrima. Significa: uma nova pátria.
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