domingo, 1 de janeiro de 2017

Ano-novo, new year

Oh, bem-aventurado o ano-novo
em que a humanidade chora seu paraíso perdido
desejando o surgimento de um novo.
                               Sabir Saqr ibn Shafiq, poeta andaluz

Assim é o ano,
o novo-ano, o
calendário se
abre em um:
uma estrela
um sol amarelo
uma tempestade
uma lágrima
fogos de artifícios.

Depois da comemoração
a nova comemoração.
Amor, fortuna, sucesso,
derrota, tristeza, fracasso.
O lado da mesma moeda.
Assim é o ano,
o novo-ano, o
calendário se
abre em um:
um mar cinzento
uma sombra de árvore
uma folha no chão
uma rua esburacada
um sítio cheio de mato.

O primeiro suspiro
do ano, a primeira
porta aberta, o primeiro
abraço, o primeiro mendigo
batendo na porta, o primeiro
cigano chorando no mar,
o primeiro cristão cantando,
o primeiro judeu vendendo
sem ninguém querendo pagar.
Assim é o ano,
o novo-ano, o
calendário se
abre em um:
uma estrela
um sol amarelo
uma tempestade
uma lágrima
fogos de artifícios.

E entre os pingos
e o vento e o frio
e entre o calor os
olhos a palavra e
os falatórios entre
dois e um três
entre quatro e
cinco cinquenta.
Dá-me tua mão
que andarei em
ti para um beijo.
Assim é o ano,
o novo-ano, o
calendário se
abre em um:
uma estrela
um sol amarelo
uma tempestade
uma lágrima
fogos de artifícios.

Começa o barulho
dos fogos de artíficios
e me lembro de bilbo
bolseiro sentado em
sua toca de hobbit
escrevendo poemas
até a madrugada.
Assim estamos nós
dois como duas silhuetas
escrevendo poemas
para ninguém que
queira vender uma
rosa sem preço ou
sem colher. 

Assim é o ano,
o novo-ano, o
calendário se
abre em um:
uma estrela
um sol amarelo
uma tempestade
uma lágrima
fogos de artifícios.

Lembrando sentado
dos meus antepassados.
Com a minha rainha dos
olhos azulados que se foi
me lembro dos árabes 
escrevendo poesia
e sinto o talento de
Deus jorrando em
meus Dedos enquanto
suspiro discreto e aflito.
Assim é o ano,
o novo-ano, o
calendário se
abre em um:
uma estrela
um sol amarelo
uma tempestade
uma lágrima
fogos de artifícios.

Me lembro dos poemas
de góngora de quevedo
os versos de neruda os
versos de lorca de drummond
os versos de elizabeth bishop
de carlos drummond de andrade
me lembro dos versos de cecília
meireles de fernando pessoa
me lembro de gullar de augusto
de campos me lembro dos meus
poemas me lembro dos textos
que li que escrevi me lembro
de cada lágrima e de cada grito
me lembro me lembro me lembro

porque era do ano a estação florida
em que o metido vendedor de romã europeu
me oferecia um novo tempo de vida
madrugada aflita
Assim é o ano,
o novo-ano, o
calendário se
abre em um:
uma estrela
um sol amarelo
uma tempestade
uma lágrima
fogos de artifícios.

e sentado eu ia
compondo os versos
para por no meio do meu blog
escrevendo como um surrealista
deixando os dedos
trabalharem
deixando a aflição
me guiar
deixando o destino
tacar suas pedras amargas
em meu rosto de arbusto. 
Assim é o ano,
o novo-ano, o
calendário se
abre em um:
uma estrela
um sol amarelo
uma tempestade
uma lágrima
fogos de artifícios.

tomando o café
esperando o futuro
esperando a minha
guitarra agir
para ter o seu
amor

enquanto berro
olhando o mundo
girando e tudo
começando

um novo ano
um ano florido
como dizia góngora
no meu coração de árabe
no meu coração de ferro:

Assim é o ano,
o novo-ano, o
calendário se
abre em um:
uma estrela
um sol amarelo
uma tempestade
uma lágrima
fogos de artifícios.

um ano-novo de açúcar
era da estação o ano florido.


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