Como segurar as lágrimas
que custam tão caro ao
coração do poeta?
Como dormir sossegadamente
sabendo que o tempo não
apagou a marca desses crimes
que continuam?
Choremos, balançando a cabeça,
exultemos de tristeza como Jeremias.
A guerra se findou mais continua
existindo nesses dias?
Voltemos ao tema da poesia:
o ano talvez seja 1944,
sabemos que existirá 668 mortos,
calculemos cada pessoa que se salva:
duas, uma criança e uma mulher,
agora vemos a ordem de despejo começando,
os judeus, os judeus, gritam os alemães
arrebentando a parede, os selecionando
como gados para pó-los no único trem.
Meus olhos se contem diante da cena.
Não derramo lágrimas, porque não existem lágrimas.
Eu estou dos dois lados.
Eu sou o judeu maltratado, esfomeado, eu sou o judeu
que carrega o relógio de ouro trocado por água,
eu sou o judeu que amava a esposa,
eu sou o judeu que discute com o outro judeu,
eu sou o judeu que esmurra o outro judeu,
e eu sou
vejo no espelho
o carrasco de olhos claros,
eu sou o selvagem alemão, eu sou o insano alemão,
eu sou o sábio alemão, eu sou o alemão regrado
que não perde a hora da contagem nem o registro do horário.
Meu Deus, eu sabia de tudo isso e fiquei desesperado.
Auschwitz, Auschwitz ,
quem esquecerá de ti?
Estás hoje em todos os lados.
És o reino do dinheiro, és o césar moderno,
és os crucificados, os bandidos, os aflitos,
os pobres, os tristes, os angustiados.
Auschwitz, Auschwitz,
quem esquecerá de ti?
As personagens se desenrolam,
o tema, a música, os fatos me consomem.
Eu sou o cantor que canta com a esposa,
eu sou a criança que morreu sufocada.
Meus olhos vêem todas essas coisas
cinematográficas e lembro que tudo isso
está acontecendo pela noite afora em meu
país, em meu mundo, em meu reino cinzento.
Minhas lágrimas, minhas lágrimas, meu Deus.
eu não tenho mais lágrimas para chorar.
Pois eu queria escapar com eles,
eu queria abrir a grade como eles,
eu queria água como eles,
eu queria pão como eles,
eu queria fé como eles,
eu queria Deus como eles,
eu queria não ser eles.
O trem chegou até o ponto
final e a estação findada.
Agora não somos mais nada.
Somos o gado destratado.
Auschwitz, Auschwitz,
até quando Deus, até quando?
Meus olhos não tem mais lágrimas.
Meu coração não tem mais nada.
A profecia do Cristo foi cumprida.
Agora só nos resta a esperança
porque acompanhamos a criança
olhando para cima e orando:
Ouça, oh Israel, Deus é nosso Senhor, Deus é único Bendito seja o nome de seu glorioso Reino Eterno E amarás a Deus, teu Senhor com todo o teu coração com toda a tua alma, e com todos os seus bens, e estas são palavras que te ordeno hoje em seu coração. E ensinará a seus filhos e falará sobre elas quando estiver sentado em sua casa e quando enveredar pelo caminho, ao deitar e ao levantar-se E como um sinal, atará sobre sua mão e serão como frontais entre seus olhos e escreverá sobre as janelas de teus jardins e cidades.
foto: ilustrativa de monumento ao holocausto
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