segunda-feira, 9 de maio de 2016

Caminho



Eu vejo pétalas
eu conto pássaros
sou tão camponês
tão capiau que até
as nuvens sorriem
para o meu nariz 
                            judaico.

Eu conto pedras
eu salto pequenos riachos.
Ando sozinho pelos campos
com saudade de uma pureza
que já não tenho.

Eu vejo cercas, eu vejo
árvores chocalhando seus
galhos ao mugido do vento.
Os bois meditam  comendo o
mato verde serenamente
enquanto passo,

Eu vou olhando cada
nuvem cada pedaço azul
do céu vai me acompanhando
eu vou tagarelando comigo mesmo
cheio de vergonha cheio de verdades

vou atravessando pessoas que me
cumprimentam amigavelmente (esses
são os verdadeiros camponeses).

Ali estou cercado de vento de felicidade,
cheio de nada e boas intenções que de
tão boas chegam a fugir do meu pensamento.
Não consigo entender nada
quando atravesso o campo (nem preciso entender).

Prossigo andando
sem me preocupar
com a gramática
da civilização, suas
bombas seus sofrimentos
suas faltas de moradias
de emprego.

Eu vou indo
lentamente
lembrando que
sou tão pequeno
lembrando que
sou tão vulgar
tão religioso
tão selvagem.

Alguns cães estão aqui
e algumas borboletas brancas e amarelas.
Tudo amanhece na minha poesia
quando vejo e atravesso essa estrada
que só acaba quando o meu coração se resigna:

pronto! já é hora de voltarmos.

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