Se queres me amar, porque não te queres me amar?
Ah, aproveita, que eu, que tanto amo o amor e a vida
Se ousasse me amar também me amaria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve a tristeza dos sucessivos momentos solitários
A que chamamos solidão?
A cinematografia dos sonhos apaixonados,
O circo policromo dos desejos irrealizáveis?
De que te serve o teu amor interior que não te preenche?
Talvez, amando-me, finalmente o entendas...
Talvez com um beijo te comeces...
E de qualquer forma se te cansar amar,
Ah, cansa-te com alegria,
E não cantes como eu, o amor por literatura mística.
Não saúdes como eu a paixão em literatura!
Não amas? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém ama; não amas a ninguém porque a ninguém conheces interiormente...
Sem teu amor haverá outros amores.
Talvez seja pior para outros amares....
Talvez peses mais amando do que deixando de amar...
O amor dos outros?... Que te importa o amor dos outros?
De que pouco te amem? Descansa: poucos te amarão.
O impulso vital da vida já te ama tanto.
Quando é nossa a existência, quando as coisas acontecem aos outros...
Por que o amor só pode acontecer ao outro, porque só queres amar o outro...
Primeiro é o desejo ardente,
A surpresa da presença preciosa do outro,
O mistério de um beijo suave...
Depois o desejo de casar, de ter uma família,
O consolo inconsolável de se entregar
Ao mero ritmo da tradição humana..
Ah, pobre vaidade que se chama homem...
Não vês que amas? Que amas tudo?
Tens, como Hamlet, o conhecimento da durabilidade do amor?
Mas o que é durável? O que é que tu conheces eternamente,
Para que chames eterno a qualquer coisa em especial?
Ama-te infinitamente
Dispersa-te no amor, com o sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da paixão da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor do desejoso não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres que de ti surge,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes de ser contigo um dentro
Do vácuo dinâmico do mundo das paixões duradoras...
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