segunda-feira, 23 de maio de 2016

Se queres me amar, porque não te queres me amar?



Se  queres me amar, porque não te queres me amar? 
Ah, aproveita, que eu, que tanto amo o amor e a vida 
Se ousasse me amar também me amaria...
Ah, se ousares, ousa!
 De que te serve a tristeza dos sucessivos momentos solitários
A que chamamos solidão?
A cinematografia dos sonhos apaixonados, 
O circo policromo dos desejos irrealizáveis?
De que te serve o teu amor interior que não te preenche? 
Talvez, amando-me, finalmente o entendas... 
Talvez com um beijo te comeces... 
E de qualquer forma se te cansar amar, 
Ah, cansa-te com alegria, 
E não cantes como eu, o amor por literatura mística. 
Não saúdes como eu a paixão em literatura!

Não amas? Ó sombra fútil chamada gente! 
Ninguém ama; não amas a ninguém porque a ninguém conheces interiormente...
Sem teu amor haverá outros amores. 
Talvez seja pior para outros amares.... 
Talvez peses mais amando do que deixando de amar...

O amor  dos outros?... Que te importa o amor dos outros?
De que pouco te amem? Descansa: poucos te amarão. 
O impulso vital da vida já te ama tanto. 
Quando é nossa a existência, quando as coisas acontecem aos outros... 
Por que o amor só pode acontecer ao outro, porque só queres amar o outro...

Primeiro é o desejo ardente, 
A surpresa da presença preciosa do outro, 
O mistério de um beijo suave...
Depois o desejo de casar, de ter uma família, 
O consolo inconsolável de se entregar
Ao mero ritmo da tradição humana..

 Ah, pobre vaidade que se chama homem... 
Não vês que amas? Que amas tudo?

Tens, como Hamlet, o conhecimento da durabilidade do amor?
Mas o que é durável? O que é que tu conheces eternamente,
Para que chames  eterno  a qualquer coisa em especial?


Ama-te infinitamente
Dispersa-te no amor, com o sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da paixão da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor do desejoso não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres que de ti surge,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes de ser contigo um dentro
Do vácuo dinâmico do mundo das paixões duradoras...

Nenhum comentário:

Postar um comentário