terça-feira, 26 de novembro de 2019

A fonte - conto

  Eu estava em uma pequena cidade francesa quando vi no meio dela uma linda fonte. Me aproximei dela com cuidado, sempre zeloso de estar vendo um artefato histórico religioso. A fonte era muito bonita.
Perto dela, estava uma linda menina de olhos azuis e cabelos loiros, amarelos.

- Bom-dia! - falei para ela. Quando se virou para mim, ela ria e seu sorriso parecia ofuscar a luz do sol.

- Que sotaque horrível - ela me respondeu, com certa ternura.

- Essa fonte é sagrada para vocês aqui dessa cidade? - continuei, já que a menina era muito educada, e não parecia nada hostil. Sempre foi meu costume pensar e achar que os franceses eram muito xenófobos. 

- Sim. Dizem que ela tem o poder de fazer as pessoas vivas conversarem com os mortos.

 Achei interessante que ela me dissesse isso com uma naturalidade tranquila.

- Me chamo Paolo, e você?

- Sou Sophie. Muito prazer.

  Ficamos conversando até que o relógio da igreja deu doze badaladas, anunciando a hora do almoço.

- Preciso ir, Paolo.

- Mais já? - perguntei chateado. A menina era muito inteligente, e tinha uma conversa muito curiosa, sobre os assuntos que eu mais gostava, que iam de disco voadores até Jesus Cristo e seu amor pelos homens.

- Sim. Estão me esperando. Foi um prazer conversar com você. Deus te abençoe. 

 Ela fez então um sinal estranho com as mãos, como que me abençoasse, e de repente, desapareceu como se tivesse feito um truque de mágica. Olhei para a fonte e fui para um pequeno barzinho que vendia comida caseira por um preço acessível, e que o dono, um estranho francês careca e gorducho, que não tirava os olhos de mim conversando com Sophie, me deixou intrigado.  
  Ao chegar lá, pedi uma refeição. O homem foi simpático, e reparei que ele era devoto de são sebastião, pois tinha muitas fotos e esculturas do santo por todos os cantos do estabelecimento. 
Comecei a conversar com ele, disse que eu era brasileiro, muito religioso, e que aquela fonte era um bom lugar para se ficar de manhã. Ao mencionar a fonte, o homem se estremeceu todo. Achei normal, ele devia estar acostumado a fazer isso.

- Gostei muito de conversar com aquela mocinha, a Sophie. Você não tirava os olhos da gente conversando. O senhor já a conhecia?

 O vendedor fez o sinal da cruz. E disse.

- Você passou a manhã conversando com a Sophie na frente da fonte? 

- Sim. O senhor viu a gente conversando, não viu?

  O homem me olhou, e antes de fazer uma oração estranha e melodiosa, me disse: - Vi sim; vi o senhor falando sozinho por um bom tempo próximo à fonte da ressurreição. A Sophie era uma jovem moça que foi assassinada ontem pelo ex-namorado. O enterro dela aconteceu no exato momento em que você saia da fonte e vinha para cá, pro bar. 

                                                                                                                                                      FIM. 

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