sábado, 9 de dezembro de 2017

Uma noite escura e fria


(paisagem noturna)


Pousou na janela dos teus olhos, diria, um tom de azul-claro tão bonito, que o céu inteirinho, afirmo, estava em suas pupilas marinhas.
Observemos os conjuntos das coisas que ainda podemos
descrever com lentidão, análise de anatomia: o céu, esse
espelho de duas faces, sendo convertido em duas coisas
ao mesmo tempo. Azulado e enegrecido, azul e negro.
Esquecemos por alguns instantes sua beleza transparente.
Vamos narrar outra história para o viajante.

As Murraya paniculatas estão desabrochando suas cores brancas. Inúmeras abelhas colhem seu cheiro,
e frutinhas vermelhas enfeitam seu natal, no dezembro.
As calçadas podem parecer sujas, mais as árvores
enfeitam a paisagem para torná-las belas.
Por que esses idiotas estão cortando elas?
Devemos nos lembrar que é questão de arte
observar o céu escurecendo tão lento,
enquanto pássaros apressados fogem da chuva.

Esse refletor branco que paira no céu,
antigamente quando eu era criança me ensinaram a chamar
esse pedaço de cratera de lua.
Que coisa riducula é essa pairando embranquecida
entre névoa tão densa e fria?
Pode-se ver a nuvem fugindo, fugindo,
deixando o espaço escuro com a sensação
de que o esquecimento é o único caminho para o perdão.
E que por fim o dia pode recomeçar.

Como sempre vamos contar estrelas
enquanto os grilos apressados entoam com as rãns
suas melodias de amor.
O vento gelado bate em nosso rosto.
Para quê decifrar a linguagem da natureza?
Sentir apenas não basta, diz o pobre viajante.
É tão escuro e frio esse lugar. Estamos aqui
apenas por estar. Privilégios naturais são exceções.
Essa é a paisagem que se abre como flor.

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