Canções das Rosas

Canções das Rosas

...todas as coisas têm o seu mistério...

Federico Garcia Lorca, poeta espanhol

as rosas:

1.rosa morena

2.rosa vermelha

3.rosa embranquecida

4.rosa negra

1• 

Vento das rosas morenas

vento da morte, vento da vida,

vento das suas mechas

cinzentas, folhas morenas queridas,

nos olhos brancos a lua prateada

nos olhos morenos a lua fria,

como uma tumba desabitada

rosa morena colhe lágrimas sentidas.

2•

Das altas rosas do campo, das mui altas rosas,

das cores mais rubras, a cor do sangue, 

como nasces, se não com a semente do sangue,

rosa vermelha dos vales dos rios da morte,

rosa do amor, silhueta das dores,

rosa triste e condenada a vagar nos vasos

esquecida pelos olhos de quem não sabe

admirar sua arte, adorno, vestido vermelho,

tomara que caia a baixo para vermos seus

olhos vermelhos, ai, espinhos onde meus

dedos sangram para se camuflar na tua cor,

rosas vermelhas, malditas, benditas, rosas,

figuras vivas, rosas vermelhas, metáforas 

vivas do amor.

3• 

Rosa embranquecida

como a lua sua figura aparece

nos espelhos descritos

pelos poetas mortos nos rios.

Rosa branca, visão da morte,

fantasmas do amor que me

assombram dia-e noite.

Dai-me um nome, rosas brancas,

rosa branca do meu coração,

visão de Daniel do céu aberto,

quero meu nome escrito em

suas perfumosas raízes,

deixa-me deixa-me rosa branca

deixai-me aqui parado vendo 

suas olheiras cansadas de luar.

Rosa branca, enfeitai meu casamento.

Rosa branca, defendei-me do vento. 

4•

Negras e profunda solidões carregas 

nas noturnas cores da sua alma, 

ó rosa negra, rosa dos amores, 

onde luas e estrelas perfumosas 

iluminam as escuridões de outras flores.

Rosa negra, sacrossanta virgem, 

iluminas o céu e terra, 

acaso onde a terra exala o aroma

 do teu perfume 

e o divino te acalanta as pétalas.

Ó parábola onde o incenso vela

 o som azul das nuvens, quando tu, 

Rosa escurecida e negra, 

chora pelos campos ocultos.

Eu te vi, rosa negra, 

dormindo pelo céu que resplandece 

sidéreas estrelas, 

e calei-me para ouvi-la gemendo.

Por isso, rosa negra, 

das mais belas, és a primeira, 

nessas solidões inteiras, 

é a única que acalma 

o meu peito ferido e terno.