segunda-feira, 23 de julho de 2018

Aos que escrevem


Como cachoeiras que somos, sim rodeados pelos cães com sarna, com os touros pisoteando forte nossos olhos, não,
com os umbigos sendo queimados pelos religiosos,
jovens meninas cantando suas recitações de primavera,
jovens, jovens homens de pernas peludas pulando
como lobos por cima dos detalhes, e as ilhas imóveis.

Um suspiro cortando o ar como uma mariposa,
tudo para Deus faz sentido e nada faz,
ele só quer o silencio de todos os barulhos,
os imensos pedregais das prisões,
o rico e o pobre se encontrando para
gargalharem juntos pela miséria,
os artistas passando fome, é claro que sim,
os escorpiões que picam para matar.

Ótimos jardins pedregosos no meio do campo,
e quem vê o rio sendo sapo? Ou quem discute
essas questões que o dinheiro dos bancos
é só um pedaço de papel que custa muitas
vidas, e que uma pedra colorida não vale
um bom pedaço de trigo ou o boi é apenas
uma vítima das circunstancias, por isso
os matadouros são postos bem longe,
e chegará o grito dos nossos ecos até a Índia?

Levamos algo por dentro das mãos
para que essa caneta seja mais pesada
que a enxada que nossos antepassados
seguraram com firmeza e valor,
mesmo sabendo que os mortos não cantam,
que os leões africanos são ternos,
e nossas gravatas um dia serão devoradas
pelas traças.

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