terça-feira, 17 de julho de 2018

Poema: para a morena que amei


Então me
trocaste por
uma guitarra
surda, mesmo
sabendo do mel,
do mel das abelhas,
mesmo sabendo
dos oceanos e
dos amores antigos,
mesmo sabendo
que tudo que o
tempo faz é
apagar os nossos
olhos com noites
santas e queimar
nossas mãos que
unidas tem apenas
uma aliança e na
outra mão apenas
um par de duendes
que dançam alguma
dança antiga que
o Sertão decifrou
no meio de runas tantas.
Então eu te amei,
com esse amor gelado
que carrego como moinhos
e você me amou,
porém, esse detalhe
é crucial, eu era um
besouro fadado ao tédio
e você uma mariposa
de nádegas imensas,
capaz de seduzir arcanjos
e querubins, que me enfiaram
espiadas pelo coração adentro.
Ai, se eu não te amasse tanto,
e te amei tanto que te perdi,
porque o amor é apenas uma
aposta, um jogo de dados,
por isso é bom ler os poetas
antigos, aqueles que sofriam,
e eu sei que quando lias meus
poemas não entendias nada,
sei, que quando me olhavas
com cara que estava entendendo,
mais no fundo do coração, do seu
coração de morena tão bela de sol,
dizias (eu escutava), o que esse
maluco quer dizer quando está
escrevendo? é verdade, é muito
difícil enumerar o relógio do amor,
ou vender as coisas belas,
ou fazer ser notado no meio
dessa gente que parece gado
desesperado andando em carros
lindos que um dia irão se enferrujar,
mas eu te amei como nunca,
te amei porque acreditava que
eras a mulher vestida de sol
e trazias a espada e a lança
para o apocalipse da minha boca.
Ai, e quando eu te beijava e perdia
o ar por causa da asma, você não
entendia, e me olhava com olhos de
dúvidas, olhos tão meigos de abelha,
e quis te nomear rainha das abelhas,
e indignada, me rechaçaste por outra
coisa, que fosse bebida ou fêmea ou abutre
ou qualquer coisa que não vale nada
já que eu era um coração cheio de diamante.
Mas quando eu ouvia sua voz
pequena e firme como uma fada,
eu subia pelas estradas dos sonhos
e gritava seu nome: ana, manuela, simone,
tantos nomes lindos para se por em
uma filha que talvez eu nunca tenha
ou talvez que eu já tenha, mas no mundo da fé,
coisa que acho impossível, porque o buraco
negro mais próximo irá engolir a terra
e então será o nosso fim.
Foste o meu primeiro amor
e sempre continuará sendo o último.

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