Caiu a meia-noite com uma fúria dormia
enquanto os meus olhos de sonhos se elaboram
na janela do quintal em meia a festa das vizinhas
semelhantes a gatas emboladas em estrelas.
Ai, de mim, amor, amada minha,
ai de mim, que vou morrendo com essa lua
pela metade da minha vida tão esquecida.
Ai, de mim, amor, amada minha.
Parou o amor no meio do luar imitando
um pássaro esfomeado por beijos e gemidos.
Minhas mãos cegas de poesia estavam entre
a claridade, e a escuridão chorava lírios.
Pela porta aberta, pelo jardim aberto,
vi o nome de muitos escritos jogados
em meio ao fogo e ao metal.
Não fazia parte de ti, amor meu,
os nossos recitais? O nosso recital?
Delirava, morto de suor, cansado de
tanto trabalho, sem poder escrever os meus versos
no meio dessa multidão sonâmbula,
no meio da tenda dos ciganos e dos poentes.
Delirando febre, delirando medo, lembrando
o vômito dos hospitais, as dores, as camas,
os comunistas assassinados na escuridão,
os capitalistas assassinando seus empregados
por dinheiro, e eu morrendo por amor
a cada dia, enquanto a espada da vida
enfiando sua navalha em meu coração
ardia minhas feridas de tartaruga marinha.
Ai, Deus meus, meus versos me confundem.
Não sei nunca sobre o que estou cantando.
Estou cantando sobre ti, Whitman, meu irmão do norte?
Sobre ti, Neruda, meu irmão chileno?
Sobre ti, Lorca, meu irmão espanhol?
Sobre o que estou cantando?
Lorena, Marcela, Janaina, Estefanie,
Ester... Quantos nomes belos para
uma filha mulher... Hoje são flores.
E meu nome arde no meu coração
enquanto madrugo versos a carvão.
Bem fundo da janela ainda posso avistar
o pequeno suspiro das sirenas que
amam os marinheiros que se vão.
Eu levanto os punhos.
A cidade está calada.
Estou calado. Não tenho mais nada.
O jardim é o vento frio que passou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário