com tema de jorge de lima
Não era um dia qualquer,
nem havia nuvens no mar.
A noite simbólica ardia
suas velas de ancoras,
suas guerras noturnas.
A princesa de cor de ébano,
negra como a fúria negra,
entrelaçada de marfim e ouro,
a coroa de mel e metal.
Um grito dentro da noite,
fez vendavais de lilases,
o verde das árvores gemeram
coroando de ar as espadas.
Uma voz estranha de pátrias outras
destilou o outono nas sobrancelhas.
Depois pousou mãos amargas
em todas as sílabas escritas.
Levai os cativos,
levai os escravos.
Levai para o mar,
para o navio do mercado.
Carregando na mão
o chicote e a tortura.
A praia deserta, o sol
moreno e quente,
não viu mais os rostos
dos afundados no oceano dormente.
A princesa suplicava
com sua voz de mariposa.
Ninguém a escutava.
Só as rochas e os grilhões.
No meio do caminho
avistou o barco inglês.
Jogai para fora os negros,
porque a escravidão terminou.
Mesmo assim, a voz serena,
não escutou o espelho quebrado.
Alguns foram mortos,
nas águas afundados.
O navio chegou a terra
sempre primeira com lemas de
outra nação.
Subiu a princesa negra,
lavada de dor e solidão.
Seus gritos de marfim
serenos não foram escutados, não.
Sua voz doce e pura
não sensibilizou os números.
Por fim o rastro de sangue
enevoado de areia
foi ficando quente, triste,
bem no meio da estrada.
A princesa sentou-se diante
de um barbado bicho-preguiça.
O amor abusou da sua coroa
apaixonando suas redes de tetas.
No mel que escorreu do céu
apaixonou o rei da outra terra.
A dor se misturou a harpa
nos gritos dos lutadores de liberdade.
E então, segurando o livro sagrado,
fugiram com sete estrelas ao refúgio.
Nunca mais fora encontrados.
E a princesa ficou sem nome,
esquecida do outro lado.
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