domingo, 23 de julho de 2017

Canção da princesa negra



com tema de jorge de lima

Não era um dia qualquer,
nem havia nuvens no mar.
A noite simbólica ardia
suas velas de ancoras,
suas guerras noturnas.
A princesa de cor de ébano,
negra como a fúria negra,
entrelaçada de marfim e ouro,
a coroa de mel e metal.
Um grito dentro da noite,
fez vendavais de lilases,
o verde das árvores gemeram
coroando de ar as espadas.

Uma voz estranha de pátrias outras
destilou o outono nas sobrancelhas.
Depois pousou mãos amargas
em todas as sílabas escritas.

Levai os cativos,
levai os escravos.
Levai para o mar,
para o navio do mercado.
Carregando na mão
o chicote e a tortura.
A praia deserta, o sol 
moreno e quente,
não viu mais os rostos
dos afundados no oceano dormente.

A princesa suplicava
com sua voz de mariposa.
Ninguém a escutava.
Só as rochas e os grilhões.

No meio do caminho
avistou o barco inglês.
Jogai para fora os negros,
porque a escravidão terminou.
Mesmo assim, a voz serena,
não escutou o espelho quebrado.
Alguns foram mortos, 
nas águas afundados.

O navio chegou a terra
sempre primeira com lemas de 
outra nação.
Subiu a princesa negra,
lavada de dor e solidão.

Seus gritos de marfim
serenos não foram escutados, não.
Sua voz doce e pura
não sensibilizou os números.

Por fim o rastro de sangue
enevoado de areia
foi ficando quente, triste,
bem no meio da estrada.
A princesa sentou-se diante
de um barbado bicho-preguiça.

O amor abusou da sua coroa
apaixonando suas redes de tetas.
No mel que escorreu do céu
apaixonou o rei da outra terra.

A dor se misturou a harpa
nos gritos dos lutadores de liberdade.
E então, segurando o livro sagrado,
fugiram com sete estrelas ao refúgio.
Nunca mais fora encontrados.

E a princesa ficou sem nome,
esquecida do outro lado.

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