Vês os meus olhos?
Agora contemplas as
minhas lágrimas que vão
caindo como pequenos
para-brisas em forma de
palomas sonolentas e vermelhas.
Não confunda
os meus olhos nem cílios
com o horizonte que se põe.
Olha eu sei que é muito
difícil alguém entender
os meus poemas mais
faça esse exercício e
tente ver a minha tristeza
refletida nos olhos daquele
negro bovino e de sua cria.
Agora estamos unidos
pelos meus olhos castanhos.
Um dia o outono irá dizer
que os meus olhos eram
leves como a bruma claros
como o imenso oceano.
A primavera irá rir desses
argumentos insanos. Dirá
que os meus olhos nada
mais são do que pequenos
globos cheio de flores e
mariposas que vagueam
dançam e se amam por
ordem da vida criada por
D'us em sua infinita
majestade. E então
virá o verão pigarreando
incessantemente: estes
olhos, esses olhos,
não são nada a não
ser estrelas que queima
queimam o marfim queimam
a vida queimam os fantasmas
queimam os gestos, queimam
as gráficas, queimam os dinheiros,
vai queimando, queimando,
é um fogo ardente é um fogo puro
um fogo que dói e de vez em quando
refresca.
Por fim o inverno dirá:
Vês os meus olhos?
Lentos, largos, frios
como um pinguim ou um pelicano.
Mesmo assim ninguém
irá me estender as mãos.
Por isso estou deitado
no asfalto e na terra.
Por isso tenho tédio
da cidade suja e esburaca
em que vivo e tenho tédio
do campo onde tudo acontece
mais por extinto do que por suspiro.
Vês os meus olhos?
São o reflexo que enxergo de você
Porque eu sou o teu espelho.
E eu só reflito aquilo que eu
posso ver em minhas lágrimas
lentas e belas
como o inverno, o verão,
o outono e a primavera.
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