sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Fragmentos. conto


Agosto, documento sem data (intencional).
De repente me faltou ar. Minha respiração começou a falhar, Arfei, arfei muito. E decidi sair pelas ruas escuras dessa cidade, para aproveitar os segundos de noite que me restava. Levei comigo um maço de cigarro, nunca fui acostumado a andar na rua sem um maço de cigarro em minha boca. Não é preferível dizer essas coisas assim logo de cara... de que sou um voluntário fumante, e por isso minha respiração falha de vez em quando, e me falta ar nos pulmões. Meu nome é Diogo Loriel, e durante todo dia fiquei preocupado com um assassinato que ocorreu, após três semanas da minha mudança para cá.
 É estranho... você anda nas ruas noturnas como se fosse um perigoso assassino, e no entanto, os verdadeiros assassinos estão aconchegados em suas casas e mansões, nas mais belas cidades do mundo, e são considerados heróis do povo. Sempre gostei muito da solidão, da escuridão e da penumbra da noite. Poderia até dizer que isso é algo que me deixa neurótico: eu odeio sair a luz do dia! Afinal, sou um morcego latino-americano. E faz uns dias que me enturmei com uns três poetas que conheci por aqui. Uns poetas estranhos, inteligentes, e acho... posso achar é claro, que até cultos.  Ficaram conversando comigo o dia inteiro... Primeiro conheci Liandro. Achei um nome horrível, mais depois me acostumei a chama-lo por ele. Acho até fantástico. Eu estava escrevendo minhas prosas horríveis de contista miserável, quando ele se aproximou e me cumprimentou: "Sou o poeta Liandro. Gostaria de ler o que você está escrevendo ai... aposto que é um conto..." e ele me deixou vermelhíssimo por dentro, porque tinha acertado.
 Tinha uma aparência horrível: uma jaqueta negra, esburacada, e fazia muito calor e ele estava com ela, como um roqueiro ou um playboy. Mais de playboy esse Zé Ninguém Não tinha nada. Tinha uns cabelos compridos, que o fazia parecer ou lembrar Mick Jagger, só que um Mick Jagger mais selvagem... então ele estava mais parecendo um mendigo do que Mick Jagger (talvez seja só impressão, é lógico).
  Me impressionou bastante com seus temas, suas teorias malucas sobre Elizabeth Bishop e seu racismo e amor sobre o Brasil; Nicanor Parra, que para ele era o bul-dog da poesia chilena; e Bolaño, que ele lera desde os doze anos, e era cultuado tanto por ele e Z.
 Descobri que Z, não era e nunca foi o "cabeça" do grupo. Havia outros poetas que se reuniam com eles, e discutiam poesia. Conheci Z nesse dia, e vi em um papel que ele deixará cair no chão, que seu nome simplesmente era, Zover.
 Nada latino, e nada bonito. E talvez só eu soubesse disso. Nunca disse nada para ninguém. Z me foi simpático, e me elogiou meus contos... Dizia que eu escrevia como um Faulkner tolo, imitando um Córtazar, mais que meus contos se limitavam a estorinhas da carochinha. Fiquei amiguíssimo de Z, embora ele e Liandro fossem sem dúvidas, os mais chegados. Ou amigos em si.
  Guiago era o menos chegado a mim. Se mostrava sempre estranho, mudando de humor constantemente. Ás vezes riamos e discutíamos calorosamente sobre a prosa lixo de Isabel Allendre, ou sobre as idiotices de uma Piñon. E nas outras ele virava um argunto defensor desses medíocres, e se mostrava seriamente alterado. Suava ou então deixava os olhos vermelhíssimos. E como se guardasse uma arma, ficava procurando algo no bolso, enquanto nos olhava. Depois olhava para a rua e relaxava. E então começava a rir: "Perdoem, eu preciso soltar os cachorros dos meus neurônios de vez em quando". Riamos todos. Eu forçava a risada. Não saberia lhe dizer o que havia acontecido com a pobre moça assassinada... Não estamparam o nome dela no jornal, pois o caso estava sigiloso. Depois de andar, fui comprar uma revista na banca, e fiquei sabendo do desaparecimento de uma amiga, Samantha. Bela poetisa. E escrevo essas linhas num momento duro de minha vida: Estou prestes a apagar a luz para ir sonhar.

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