sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Um século de solidão (conto)


 Um século de solidão. Ou talvez fosse apenas um minuto de transpiração que ele tinha, depois de tanto tempo amordaçado pelas pessoas. Tido como um louco, o que já pensará em aceitar: sim, sou um louco. Sou um louco diante de tantos normais, de tantos seres fabricados... Meu Deus, sou apenas um louco em solidão. Dizia isso sem guardar mágoas nenhuma, talvez sabendo que mágoas são hipocrisias mentais. Vivia dizendo-se um mestre, um homem do cunho de Antônio Conselheiro. Talvez fosse, talvez não fosse. Isso não é metafísica discutida por ninguém. Contemplava as estrelas, porque antes contemplará as pessoas: humilharam-no, abafaram-no com insultos, entristeceram-lhe a alma. Mais jamais discordava delas. Apenas tossia, vivenciava e sentia tudo. Afinal, não lhe foi dado o dom ou o sentimento nefasto de atacar o outro, de arrancar-lhe lágrimas do vazio mental. Sabia disso.
 Por isso contemplava as estrelas, com o seu espírito destruído, mais com sua alma transbordando ternura, amor, carinho... Mais estava solitário, abandonado, e rodeado pela imensa solidão.  Talvez fosse isso o que queria, talvez fosse isso o que deram para ele de bom grado: o exílio diante da vida.
 Ele discordava, citando os mais variados filósofos antigos, das luzes e das trevas: Aryanè VollsBurg, russa que discutia a utilidade de se viver solitariamente em uma sociedade vazia e sem esperança. Dom Juan Jamones Santander, poeta e filósofo español, queimado pela Igreja Católica com a acusação sincera de ser um mago feiticeiro, um dos assassinos de Cristo (dizem, isso quem conta são os pequenos poetas da Catalunha, que antes de ser queimado, ele levantou suas mãos trêmulas e lentas e gritou: Que me perdoe senhor, Mais quem Merecia o fogo Eram eles).  E também o esquecido americano, Henry Balgol, traído durante os tempos de revolução de independência americana, diziam que os Homens são animais, e devem se comportar como tais pelo capitalismo. Mais com o humanismo didático e criativo da criação, poderiam se tornar seres bons e conviverem em paz eternamente. (Henry Balgol foi cruelmente assassinado pelos britânicos leais ao rei Jorge III).
 Os pensamentos de solidão desse homem triste, diante das estrelas, poderia ser um lamentoso e piedoso processo de dizermos: esse homem sofreu crueldades terríveis por parte das pessoas, mais ali estava, se aceitando como um louco, mais não se torturando.
 Ele olhou por um instantes o céu negro que se formava, e suspirou. Morrerá triste, sozinho e abandonado, mas morrerá feliz!

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