Não era a primeira vez que eu ficava depressivo. Tinha me acontecido isso desde os tempos de criança, nos desesperos de solidão, quando eu pensava que ninguém (nem meus pais, nem nada) me amava ou se importava comigo. Sou um búfalo literário. Acho que você que lê essas palavras deve esta se perguntando: mais que merda, porra, caralho, desgraça, é um búfalo literário? Um homem quem lê constantemente, sem adquirir conhecimento nenhum? Ou um cara que escreve compulsivamente à noite, sem ninguém a sua volta, talvez apenas observado por Deus e as estrelas noturnas do céu? Um búfalo literário é um homem que faz as duas coisas, e vive apenas, com a ganância de receber...... Prêmios literários!
Há uma diferença constante entre um búfalo literário, e, um escritor, e por favor, não me colham como um medíocre constante ou semi-analfabeto que ganância dinheiro. Meu complexo está além. Nós búfalos literários, somos homens divididos entre a tortura e a solidão, e por isso escrevemos arriscando tudo, como se fossemos senhores controladores do beatnik literários de nossa região. Escrever é um ato de loucura e medo. Ganhei inúmeros concursos, embora nos dividamos entre seis, já que o o sétimo, Rodrigo Azevedo, debandou do grupo, aceitando um emprego de escrever para uma grande editora. Não consta em minha mente ou alma, que tenhamos perdido nossa amizade, apenas por ele ter se desligado do grupo. Uma vez búfalo literário, será sempre um búfalo literário. Mais eu fui uma coisa antes de ser um búfalo literário. Não... não fui nenhum escritor de porte de grande editora, nem um selvagem atacador da literatura do bom e velho Philip Roth (Deus do céu, quando lhe darão o Nobel literário?). Apenas fui um membro detetive de uma co-ligação secreta contra a ditadura militar do meu país (no caso, a República Bananal Brasileira). É estranho... nunca escrevi nada desse tipo, ou seja, assassinato, talvez por que o assunto me deixa um pouco desequilibrado e ansioso. Por isso o meu ser depressivo, embora eu seja depressivo desde os tempos em que eu olhava para a chuva, na minha pequena casinha, na minha cidadezinha natal. O fato é que, lembrar dos tempos em que eu tinha que cooperar com os assassinos (policiais é claro), aquilo me torturava terrivelmente, e eu buscava me aliviar, entrando em transe, como um bom búfalo literário.
Escrevia sobre esses assuntos, colocando personagens assassinos vitoriosos em minhas páginas (será que algum outro escritor seria tão louco como eu, também a fazer isso?). E após a escrita, citava os meus escritores favoritos, adivinhem o que fazendo? Colocando-os como os assassinos ou descobridores do assassinato. Usei o cego Borges, escrevendo um poema em louvor do capitalista Juan Notion, morto a tiros, em frente da rua Maiúpu, o número nem me lembro. Perdi o conto, o que é louvável, não queria atormentar Borges em sua tumba, já que o respeito profundamente. E outros tantos literatos, que só citá-los, me levaria a um boom de processo que me mataria de certo do coração.
Ser um búfalo literário é não se levar apenas pela consagração, mais massacrar a todos os outros imbecis que não receberam o prêmio. Riamos, ironizavam-nos, e nos discursos botávamos coisas tormentosas sobre seus contos repugnantes, na mais pura crueldade literal e visceral!
Por que escrever é de certo modo atacar constantemente os gênios petrificados de nossas frentes, e juro para todos que querem saber, e até aos que nem querem: sempre fui um menino de rua, jogado e perdido no transe da realidade, e nunca me preocupei com isso.
Antes de escrever ou ser detetive pago pelos militares, fui um menino tímido, fechado, que só andava pela rua quando ia para a quadra de futebol que existia perto de minha casa (acho que nem existe mais). Meus desejos literatos, só se afloraram após uma certa idade, talvez depois da minha primeira masturbação (meus amigos diziam, que eu me masturbava apenas lendo os livros de Jorge Luis Borges, o que é irônico, já que eu me masturbava simplesmente ao ver as delirantes imagens dos livros da boa e esquecida Cassandra Rios). Meu jeito desengonçado, apenas eliminava as meninas bonitas do meu caminho, e é claro que as feias também. Eu tinha óculos, roupas grandes e um cabelo muito mais muito enorme, chegando até minha nuca. Minhas conquistas amorosas não duravam algumas semanas, e eu, depressivo em tenra idade, sofria.
E é claro que por isso eu lia. Lia compulsivamente todos os dias. Cheguei ao cumulo de ler Dostoiévski e Tolstói ao mesmo tempo, e depois escrevia (a mão) contos que guardava trancafiados para não caírem nas mãos ásperas de meus pais, que de certo me condenariam de insano, maluco, ou tarado. Como cabia a mim ser o filho mais velho, meu irmão tinha certas ousadias que só pude ter mais tarde. Certa ironia Freudiana, creio eu. Ele se dava bem, mesmo sendo uma porta, sem conteúdos, com todas as menininhas que aventuravam seu caminho. Longe dele, eu escrevia sobre isso, com certa inveja. Invejava-o, e isso me libertava, pois depois de escrito os contos, eu lhe mostrava, dizia que lhe baseei o personagem, e o que ele achava. Elogiava e dizia que eu era muito bom para escritor, e que seria "interessante", ter um irmão que escreve. Não nos vemos a muito tempo. Ele se mudou pro México, para estudar a cultura Maia, e me mandou uma carta, me saudando por meu conto, o Corvo Negro, que publiquei em uma revista e acabei encontra os búfalos literários.
As regras para ser um búfalo literários é apenas ser um selvagem no meio de tantos civilizados. Jamais abaixar a guarda para os medíocres que escrevem mais por dinheiro do que por prêmios e honras. Escrevemos por que caçamos os nossos alvos. Somos britânicos em plena África selvagem, queremos os leões sobre nossas mãos e seus sangues escorrendo sobre nossas peles. Me desculpem por tão imensa bobagem, apenas penso que sou ainda detetive e preciso escrever essas frases de efeitos que todos escritorzinho de merda uma vez na vida precisa criar.
Ser um búfalo literário acaba comigo... É bom... mais continua a acabar comigo...
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