quinta-feira, 12 de julho de 2012

Como surgirá o poema (dilema) -



Como eu queria ir agora
nesse jardim de poesia
tão viva,
mas
que horas será que o pelicano da inspiração
pousará suas asas em minha cabeça,
bicando meus ombros
e se equilibrando por sobre meus cabelos?
Esse jardim é tão belo
e tão estorvo
que chega a ser abstrato (e como o abstrato é chato).
Não navego, apenas movo.
Movendo sinto por todos os lados
(não será assim o exato do obstáculo?).
Sentiremos o vento,
senti-lo é o desejo
(desejar não é se confessar).
É preciso olhar as calhas, as sándalias,
e descrevê-las com exatidão
de um
cirurgião.
Afinal, isso pode
separar a mortalha da palavra
que viva escapa, muito
usada.
Moveremos assim tudo o que vem de fora ou
dentro,
como algo sedento
por momentos.
O mar se afirma com o seu azul netuniano
não se envolve nele prantos.
É preciso ter no olhar o vibrar
para que não se possa deixar escapar
o momento do observar.
E se isso trouxer rimas, cerquemos
ela
com arame farpado
para que só atravesse
o mínimo do que se deve ser realmente
usado.
Talvez o sangue prosador
infinque em palavras alguma dor
não rimemos amor com dor ou sabor com matador.
Levaremos assim
tudo o que deve
ficar preso no utilizado
(mesmo que esteja no seu estado esgotado).
Que esse pudor
não seja desclassificado,
poema surge com matéria
viva, dentro de seu próprio
estado.
Esse estado não requer
nenhuma força anormal:
é observando que se prende
o vivo do material e do imaterial.
Não se escapa da chuva,
como não se escapa do amor:
é preciso força vitálicia
pra roer o que é vivo
do sabor.
O sabor tem que ser quente,
pesado, saboreado.
A rima é o açucar
do que pode ser salgado.
Salgando o poema se pode
ter uma visão com esplêndor:
mesmo sentindo a rima
não gerará tristeza ou dor.
Assim se prende o material
o objeto é selado no poema
sem nenhuma matemática física
sem nenhuma fórmula, sem nenhum esquema.
Só se usa o que se pode
descrever em memoriação:
A cor do asfalto preto,
O bolor verde do pão,
O latido chato do cachorro
e as sete patas do dragão.
Usando isso se olhará
na fumaça crepuscúlar do canto:
eis como surgirá o poema
em sua prosa
ou
em seu encanto!

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