quarta-feira, 19 de junho de 2024

IGUAL A UM ORIENTAL DA CHINA Gabriel Limão Macabeu (max ataide stein)

 

IGUAL A UM ORIENTAL DA CHINA
Gabriel Limão Macabeu (max ataide stein)




VOLTO A ESCREVER A POESIA DE MIM MESMO

A única sabedoria que uma pessoa pode esperar adquirir é a sabedoria da humildade.

T. S. Eliot

Vês tu esta casa?
    Não, 
      não é minha, e é 
nela que volto a escrever-te 
                                  poesia 
Escrever a poesia
 do dia a dia 
não as fezes poéticas
 amoras amores demoras 
e tudo etc... 
           justiça 
 social
          carnaval
 samba 
          música
 Brasil. Voltar a colocar a alma em forma de palavras
compor compor poemas
compor como o artesão faz a mesa
ou o pintor pinta seu quadro
com tinta e esquadro e faz
ver a paisagem de sua mente
Cantar 
volto a te escrever poesia
igual um comício
           um míssil
uma bomba qualquer, 
porque um poema é isso.



ESCUTA
Escuta, escuta comigo,
Escuta, escuta as harpas angelicais,
Escuta, escuta,
Dentro de sua casa ou nas ruas,
Nas calçadas ou nos hospitais,
Escuta, escuta, 
O pio da coruja, a voz da Floresta,
Escuta. Escuta.
A melodia dos faunos,
O som do bravio oceano irritado.
Escuta, escuta comigo
As mitologias celticas.
Vamos, escuta, escuta comigo,
Os erros de Darach,
Escuta, escuta,
Enquanto bebemos o sabor
Do vinho do trono de Sucellus.
Escuta, escuta,
As risadas de Belen antes
Que a chuva caia em cima de nossas casas.
Escuta, escuta comigo!


IGUAL A UM ORIENTAL DA CHINA
Nem que você não cite meu nome
Nesse frio onde o inverno te beija.
Saiba que eu te amo profundamente
Tu, que me lês na noite escura.


NOTURNO
Há muito tempo, livre eu,
Escrevi um poema, e vi teu dorso
Ó cavalo de metal e ouro.
E me assombrei com este fato.
E precisei caminhar por
Grande estrada aberta,
Porque o amor para mim foi negado.
E não que isso fosse para mim
Uma batalha eterna.
Sabem os anjos que os homens
Passam frio e tem sede de Deus.
Quem buscará em me entender
Que saibam que muito fui as Igrejas.
E que depois do meu findar
Não irei morrer: subirei as altas Estrelas.


ACORDE
Vou por bosques, e vejo bois,
E vacas passam por cima de minha casa.
Acendam os lampiões e cantem
Todos os violões as músicas Sagradas.

O caminho é cheio de árvores,
E as pessoas estão a nossa volta.
Companheiro, olhai o bosque
E passai pela frente sem demora.

Levem a donzela para longe,
Que a chuva fria irá saltar
Dentro do peito incandescente
Que irá tristemente morrer.

Vou por bosques, e vejo bois,
E vacas passam por cima de minha casa.
Acendam os lampiões e cantem
Todos os violões as músicas Sagradas.



SONHO
Que és, sonho? Uma linda morena
De cabelos doirados que chama meu nome.
Eu escuto, e há um lago à minha frente.
Veja, a neve cai lá na Europa,
E aqui, na América há um Sol eterno
Que escreve teu nome na areia.
E pirâmides brotam da floresta.
Olhem: as nuvens também cantam.
És, vida, um sonho eterno.



TRADUÇÃO DE POEMA APÓCRIFO DE MEILIN DE SHUH, da dinastia Ming 
ó gravetos suaves que caem
das árvores com o passar do vento.
a pequena criança que carreguei
no meu ventre está agora
nas asas de um anjinho.
eu estou sozinha no meio
de um reinado estranho e obsoleto.
ó tigres que vi em outros sonhos
ó noite onde repouso no colo amado.



CRÔNICA EM FORMA DE VERSOS SURREALISTAS
Veio o frio diante da janela dos meus olhos
e então me lembrei de seu rosto oriental
eu não, eu não posso derramar lágrimas,
irei cantar as coisas como faria um idiota
que soubesse falar perfeitamente o inglês
e agora que a neve do meu coração
começou a derreter por causa do sol 
que ergue o mar como um bastão de violinos
eu devo cantar todas as coisas antes de morrer.

Aquela muralha tem um nome e tem uma
pessoa que está escrevendo uma carta
para mim nesse exato momento, e eu não
posso esquecer que essa cidade é
apenas uma cidade, uma pequena cidade
é apenas uma outra pequena cidade,
e uma grande cidade é uma pequena
grande cidade porque em cada aldeia
há um porto ou uma desolação onde
quer que os seres humanos se encontrem
ali há alegria tristeza sexo dores risos lágrimas
etc... etc... etc... etc.. etc.. etc... é absurdo eu te esquecer

eu o faço ó rosa do jardim deixa para trás
eu o faço porque algum dia alguém conseguirá
ler a minha poesia com lágrimas nos olhos
eu não estarei mais aqui para explicar eu que não existo
eu que só existo quando escrevo e quando estou pintando
minhas abstratas imaginações e eu quero dizer que o
oceano tem águas salgadas e ele é imenso e feito de água.

Posso acordar desse pesadelo estranho surrealista
mesmo transformado em um inseto em minha cama
posso ver chovendo moedas de ouro lá fora
mesmo com tanta pobreza em volta ou dizer que
vi uma mulher loira de seios pra fora conversando
com um sapo gordo feio verde e verruguento
em uma rua esburacada e eu sei que vão dizer
que tudo isso é fruto da minha poesia ou uma
alucinação mais eu sei que todos nós somos
no fundo pássaros presos em uma torre feita
de ferro pedras cacos de vidro e cobre.


O MENINO
O menino lançou uma pedra imensa em direção ao navio,
quando percebeu que o capitão do navio tinha barbas de polvo.
Ao invés de gritar, ele observou o capitão dando ordens
a simples marinheiros que estavam observando as gaivotas
voando sobre suas cabeças.
Vamos logo, gritou o capitão, seu preguiçosos, parem de
olhar para cima porque nada cae do céu.
O menino pensou: esse homem deve ser um tremendo
idiota mesmo, será que ele nunca viu uma tempestade?
gotas de água caem do céu em cima dos telhados das
casas, eu acho que é um momento muito bom para dormir.
O capitão observou o menino e fez uma cara muito feia para
ele. O menino mostrou-lhe a língua e saiu correndo para
conversar com seu avô, que era um simples pescador
velho, que estava tirando as escamas de peixes falantes
à beira do tanque. "Esses peixes falam muito", comentou
o avô quando o menino se aproximou. "Não consigo
entender o que eles falam, vô". Eu sei, respondeu o avô
sorrindo, eu passei doze anos no mar, meu neto, por isso
consigo conversar com os peixes fluentemente.
O menino contou a seu avô sobre o capitão do navio. 
O avô suspirou, eu o conheço há muito tempo, disse,
ele era um homem muito perverso, dizem que até
fez um pacto com o coisa-ruim para não morrer,
e agora tem a cara de polvo, e os coitados dos seus
marinheiros são apenas escravos impossibilitados
de encontrar o amor, e só podem viver perto do mar,
por isso vivem olhando para o céu, esperando o messias
resgata-los, mais o messias só virá quando os judeus
pararem de procurar ouro embaixo de seus narizes
anduncados. O menino assentiu com um leve aceno.
E saiu correndo de volta para a praia ver se o navio ainda estava lá.
Mas ele já havia partido.


NASCIMENTO
quero nascer como uma raiz
e ser belo como uma árvore

e alcançar a copa alta
em um beijo tranquilo.


CANTAR
Cantar, e nada mais,
E as palavras soarão,
Cantar e nada mais.
Entre mim e o coração,
Um navio e uma pedra,
E nada mais.
Entre mim e você
Uma eterna estrela.
E cantaremos sem parar,
E nada... Nada mais!


MAKTUB
É bom ser importante,
No entanto é mais
Importante ser bom!


CINEMA
Abre fecha corte luz ação
Eis o cinema eis o poente
Eu não quero eu quero
Eu preciso assistir televisão
Não
    Não
Não
Hoje o mundo é uma tela
Hoje o mundo é um cinema
Esse vai e vem nesse mundo
Estranho mundo absurdo tudo
Filosofia
Deixa eu gritar pra todo mundo saber
Que o cinema falado
É o grande culpado
De eu te amar
Deixa eu dizer assim Caetano
Bethania
Deixa eu amar você.


MÚSICA
vou cantar
com as asas do tempo
vou berrar gritar
pra fora e pra dentro
vou deixar formar
um livro musical
e te entregar uma flor
em forma de mil melodias
o mel do amor vai nos unir
vou deixar cantar sair
voar um pássaro pela porta
eu quero ouvir sua voz
recitando o meu poema
de fora de dentro
e dizer e sair e amar e viver
e começar de novo
a música que não vamos
nunca
nunca
nunca
esquecer.



SÓ EU E VOCÊ
vem meu amor
senta aqui no sofá
me fale o que você gosta de fazer o que te deixa triste me diz o que você quer
vem meu bem
só eu e você
mais ninguém
nada mais
só eu e você
nos amando nos beijando
deixando a vida
entrar pela janela
a luz o cheiro do café com leite
a canela
vamos ler os poemas de todos
os poetas dessa língua bela
a portuguesa que só você e eu vamos entender no futuro
em cima do muro comendo um pastel e tomando cana
e dizendo
que só eu e você estamos entendendo
que amar é ser mais com você
viver
viver
viver
viver.


PARAÍBA
ali sim, claro,
ali onde o osso
do boi é tão belo
ali onde o mar
é um rio onde
a cana é doce
onde o sal é salgado
sem a paraíba
não haveria um judeu
sem a paraíba
não haveria um eu
e então eu louvo
eu canto e vejo
e peço a Deus
que a paraíba
seja a paraibana
a mais bela que
esse mundo já viu.





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