terça-feira, 3 de julho de 2018

Resposta a um velho poeta que me aconselhou a não publicar meus poemas


É claro que eu te entendo
assim como entendo os gravetos secos
do carvalho a luz dos vasos sanitários
as bucetas meladas de gozo das gostosas
o latido dos lobos a noite e o som das aves
procurando ninho para dormir.
Você me disse, como é mesmo (?)
"não publiqueis, nada, esse mundo,
essa gente, todos, não merecem
palavras algumas dos poetas,
devemos escrever coisas belas
e guarda-las para nós mesmos".
Eu concordo, meu bom amigo.
Quando eu tiver encanecido
tanto quanto você, talvez poderei
fazer isso. Mas a minha resposta
é clara como a fotografia de Rimbaud
no meu quarto: quando precisei de um consolo
os poetas publicados ali estavam,
sejam em revistas, livros, e até mesmo
em bilhetinhos de biscoito chines.
Por isso insisto. Em tempos como esse
eu seguiria o seu conselho.
Mas o mundo pega fogo.
E os poetas ainda tem água
para as gargantas secas que querem
cantar.

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