quinta-feira, 31 de outubro de 2019
De Tigres e Leões / conto
Sonhei inúmeras noites com a figura felina, isso quando o Verão era mais quente que o Saara, e o inverno, mais frio que todos os Polos de gelo do globo terrestre. A figura do Leão foi a primeira que apareceu em minhas lembranças, como se a fúria da domável fera fosse um acaso qualquer. Lembro que o primeiro Leão que me fascinou (e isso antes de gostar do Ouro ou do Diamante) era negro como uma escória. O que me deixou alegre foi ver suas tremulas jubas cinzentas ao vento. Eu não poderia dizer se na noite profunda das savanas africanas esse leão poderia ser encontrado pelo caçador nativo ou pelos olhos do invasor europeu.
Por muitos dias o Leão me fascinou, e ficou sendo a figura ideal do meu exilio selvagem, porque a figura do Leão (macho e fêmea como o Criador determinou) estava como um espelho em meus olhos, e sempre que eu deitava cansado para não contar estrelas comecei a contar Leões.
As vezes ao ver tantas jubas encaracoladas de dourado, me supus sendo Daniel arremessado pelos ímpios idolatras do reino na cova dos Leões, e ali, ajoelhado ou deitado ou meditando entre mil especulações, estaria com o Anjo do Senhor, que por muita casualidade (ora, não existe nada na vida que aconteça por acaso), seria um anjo com rosto de Leão e com sete asas peludas como jubas.
Com o passar do tempo a figura do Leão foi dando lugar ao fascínio dos Tigres, esse imenso animal selvagem dos confins da Ásia, capaz de esmagar o crânio com suas ferozes mandíbulas, ou esmagar um urso com suas patas.
Achei que o Verão estivesse muito quente quando o primeiro Tigre me perguntou o que eu estava fazendo naquele sonho.
- Eu estou muito cansado para dar uma resposta exata - respondi tristemente, sem que a minha voz fosse entendida pela fera - por isso vago nos sonhos, olhando Leões e Tigres.
O Tigre entendeu que tudo o que eu pensava seria no fundo o eco do primeiro Leão que vi, e mesmo que eu pintasse um quadro exato com o dourado dos olhos dos Tigres, eu não seria capaz de descrever o êxito que sentia ao ver na arena romana a fera e a fera, Tigre e Leão, se digladiando, sem vencido, sem derrota.
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