sexta-feira, 25 de outubro de 2019
Visão de um viajante
Ah essa cidade é suja, suja,
quem sabe isso seja apenas
um detalhe a mais na sua beleza?
Não é imponente essas ruas tão
esburacadas como um dente sem
cuidados.
Se você andar para o centro,
se for um bom cristão vai ter muito
o que fazer para entrar em ação:
bancos e catedrais se misturam
com o cotidiano mais pobre da
população, que dorme na rua,
que urina nas igrejas, que talvez
imagino, conversem com os pombos.
Veja a situação daquela praça:
está rodeada por nomes de judeus,
só que a cidade não tem nenhuma
sinagoga, então não podemos ir
além da imaginação para ver que
a cidade não é a nova Jerusalém.
Para você que andou nessas ruas
estreitas e estranhas há de convir
comigo que aquele prédio horrível
é o pronto socorro, e que aquelas
mulheres que estavam conversando
eram travestis (a nossa vista é tão
embaraçada).
Carros, como sempre, de brinde
para enfeitar a cidade de fumaça.
O sol é tão quente e se você não
tem dinheiro não vai poder tomar
água.
O capitalismo é realmente horroroso,
mais a vida é tão estranha quanto
qualquer sistema inventado pelo homem.
Anotando, anotando no caderno
a visão que essa cidade passa para
os tralhadores cansados nos ônibus.
Esse é o paraíso que sonhávamos?
Que ilusão mais doce e salgada.
Melhor seria termos ficado em casa
mesmo que a alma tenha se enferrujado.
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