sábado, 19 de maio de 2018

Sonhos clandestino

Sonhos clandestino
(roteiro de curta)

i
A abertura do filme deve ser o menos trivial possível.
A câmera deve começar o movimento pegando a luz solar,
mostrando um céu azul, limpo de nuvens, até focar em dois árabes
em um caminho deserto. Eles conversam. Um está com turbantes, e segura alguns tapetes nas mãos e debaixo dos braços.

-diálogo dos árabes

Árabe  1
Então não conseguiu vender nada desta vez?

Árabe 2
Nada. Os negócios estão cada vez piores
por essa banda.

Árabe 1
Talvez devêssemos voltar pra casa.
Ou buscar outros lugares para comerciar.

Árabe 2
Acabamos de chegar.
Vamos dar um tempo.

Árabe 1
É, vamos dar um tempo.

ii
Som de música árabe-tradicional. 
Mostrando desertos,alguns camelos, discussão, 
imagens do mediterrâneo ou de algum país do Oriente Médio. 

iii
A cena foca em dois casais debaixo de uma árvore.

O nome do primeiro casal é Ana e Paulo.
O segundo é Federico e Andreia.

-diálogo do primeiro casal-
Ana está com um pequeno vestido verde.
Ela tem uma aliança de prata (foca na aliança em alguns momentos).
Paulo usa um chapéu fedora. Masca uma espécie de palha. Não usa aliança.

Paulo
Você viu aquela nuvem?

Ana
Que nuvem?

Paulo -apontando para a nuvem
Aquela ali.

Ana
Estou vendo.

Paulo
Parece um coração, não é?

Ana
É, parece.

Paulo fecha os olhos. Ana continua olhando para o céu.

Ana
E aquela ali.

Paulo
Qual?

Ana -apontando
Aquela ali cego.

Paulo
Estou vendo.

Ana
Com o que parece?

Paulo -mau-humorado
Com uma aliança.

Ana
E por qué você não está usando a sua?

A câmera foca no segundo casal.
Federico é um homem de cabelos loiros.
Andreia tem os cabelos escuros. 
Ele olha para os sapatos novos que tem.
Andreia usa um colar, e um vestido rosa.

Federico
Odeio sapatos novos.

Andreia
Você odeia tudo, Federico.

Federico
Pode ser.

Andreia
Me odeia também?

Federico
Eu nunca te odiaria.

se beijam

Andreia sorri
Sabe que eu gostei desse vestido rosa?

Federico
Um dia você disse pra mim
que detestava a cor rosa.

Andreia
E você me disse que odiava sapatos novos.

Federico
Eu continuo odiando.

Andreia
Eu não posso odiar um presente
do meu namorado.

Federico
É por isso que eu te amo, minha rosa.

Andreia
Não precisa me chamar de rosa.

Federico
Minha abelhinha?

Andreia
Disso nunca. Por favor.

Federico
Odeio sapatos novos.

iv
Barulho de trovão. Mostra uma tempestade.
Aparece um homem correndo no meio da chuva.
Ele canta "chove, chove, chove mais". 

v
Mostra uma menina olhando a lua.
Uma lágrima escorre pelo rosto dela.
Mostra uma bíblia na cabeceira de sua cama.
Ela segura um papel na mão, e um retrato.
Ela poe o retrato (um homem) e coloca o papel junto.
Começa a chorar bastante.
O vento bate na janela.
A lua amarela é coberta por alguma nuvem.
A nuvem forma um texto: sinto saudades de você.
A menina amaça o papel. 
Soluça. Levante e apaga a luz.
Tudo fica escuro no quarto.
Ela fala, sussurrando lentamente: eu te amo.

vi
Foca um pintor sentado no meio da rua. Suas pinturas estão em um tapete. 
Ele esfrega a mão, radiante, quando se aproxima um homem de aparencia
tosca e burguesa (no estilo mais tosco que possa parecer, terno e grava)

diálogo do artista com o colecionar de artes

colecionador
Quero comprar esse quadro.

artista
Não está a venda.

colecionador
Como não está a venda?
Você está mostrando seus quadros pra vender não é?

artista
Não. Estou expondo para esses pobres de espirito
toda a minha vida.

colecionador
Quero comprá-la.

artista
Não está a venda.

colecionador
Você está morrendo de fome.
Precisa do meu dinheiro.

artista
Outros muitos morreram de fome.
E de sede, e de dores.
Já disse, não está a venda.

colecionador
Quero comprar sua arte.
Compro todas, se prostado
me adorares.

o artista se figura em um 
homem com vestes brancas.
com a mão enriste grita:
Ao Senhor, teu Deus adorarás, e só a ele servirás. 

o colecionador vira um monstro e desaparece em uma nuvem de fumaça
o artista sentado olha uma criança com uma moeda de prata.
a criança estende a moeda e aponta para uma pintura de uma flor.

criança
Quero essa.

artista
Pode levar. Está na promoção.

A criança coloca a moeda na mão do artista. O artista sorrindo.

artista
Obrigado Jesus.

vii
Mostra o sol se pondo. Uma menina corre atrás de um menino.
Eles estão brincando. Enquanto o sol vai se pondo, eles vão crescendo.
Mostrando eles como adolescentes, ele grita "eu te amo" e ela responde
gritando "eu também te amo". O por-do-sol continua, mostra eles se beijando.
Mostra eles se casando diante do por-do-sol. 
Mostra eles brincando com seus filhos no por-do-sol (o foco sempre é o por-do-sol).
Mostra eles envelhecendo.
Mostra duas tumbas diante da luz morna que vai se findando.
Só quando o sol se esconde e a noite chega, estrelada e com uma lua suave e branca
mostra os dois túmulos completos. Em palavras brilhantes completando os dois aparece
escrito: Eis aqui o amor.
Assim: 


viii
Barulho de vento. Uma avó faz chá e  a chaleira chia. 
A neta da avó desenha um desenho.
As duas começam a chorar juntas. A avó limpa as lágrimas
no avental. Ela abre um almanaque  onde se lê "hoje, chuva".
Começa a chover lá fora. Ela estende o almanaque.
A menina (lágrimas brilhando) lê: Eu sei o que sei.

ix
Os dois árabes do começo aparecem sentados
O do turbante boceja. Aparece um casal. Eles perguntam:
Quanto está esse tapete? 
Mostra a transição. A moça paga o árabe sem turbante.

Árabe 1
Bom, agora as coisas vão.

Árabe 2
É, agora vão.

música armorial lenta e triste
aparece um fim bem grande.

dedicado a minha família 

depois dessa frase outro fim menor



créditos.

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