Longos véus de nuvens
caindo pelo céu escurecido.
Longas tranças de amores
nos seios duros e contritos
da amada submergida pela
ternura aquática dos anfíbios.
Longo, longo caminho,
onde nem você nem eu
somos permitidos no ninho.
Longo fio onde o metal
lendo, oxidado pela ternura,
sente os beijos violentos
das granadas prematuras.
Pela cidade imensa
carros apressados levam
o meu coração sufocado
para o desespero azulado
do céu, que vejo, imóvel,
sufocado por algo, pela alma
densa de poeta, triturador de versos.
Minhas pernas vão pela cidade,
pela sempre mesma cidade,
cidade maldita, feita de pessoas
com cacos de vidros e invejas.
Passo, sereno, com os olhos
inchados de elefante e a tromba
do meu nariz respira o ar maligno
exalante da cidade, porque há algo
oculto nas fronteiras das nuvens,
algo que não consigo decifrar,
algo que quer ser e quer me assassinar.
Pelas ocultas frestas
a porta aberta tomba como um lírio.
Longos véus de nuvens
acariciam minhas mãos,
e anjas negras com seios de petróleo
beijam minha boca com mel e açúcar.
Enquanto Maomé me ensina a poesia,
vejo de longe as distantes silhuetas do desespero.
Por mim mesmo o caminho
é findado pelas areias.
E na tristeza das coisas
escrevo, escrevo, escrevo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário