Lento dia de névoa e fogo estendido pela janela
carregado de nuvens, poemas, e sonhos.
Uma miragem de oceanos se revela nos olhos
como duas pinças de escorpião, um mar feito
de flores verdes e longínquas nuvens amareladas
como as páginas dos livros que foram molhados
pela chuva transbordante.
Dia, dia transparente de fuligem e aço,
dia onde nada acontece porque nosso pés
estão debaixo de uma ponta feita de terra,
areia, petróleo, crises mundanas, anjos.
Dia, dia transparente de fuligem e aço,
dia onde tudo acontece como uma miragem,
onde nossas mãos seguram o tronco da árvore tombada
tentando ressuscitar a noite pelos poemas, pelo ar em
que respiramos como gafanhotos em forma de mariposas.
Ai, olhos meus, olhos atravessados
de luz e trevas como duas mantas.
Olhos meus, que tanto viram e nada
viram, porque são cegos como toupeiras,
são cegos, cegos, cegos como as estrelas.
Ai, olhos meus, olhos profundos, olhos meus.
Dia, clandestino e transparente,
surgindo pela janela o sol, ovo cru e vermelho
reflete os sete espelhos do coração.
Coração manchado de ilusões, é claro,
como tudo o que move esse planeta
o mínimo planeta dentro de outro planeta
e no fundo do fundo a vida é um sonho.
Dirão os poetas mais rebeldes que não
é um sonho de manga nem de goiaba,
sim, é apenas um pesadelo de vermes.
Dia, onde posso depositar minha gravata
em forma de palavras? meu desperdicio
de existência? Naquele vaso de flores,
ou no meu coração de alicate?
Como és belo, dia, dia, dia,fonte da revolta, fonte da vida.
Lento dia de névoa e fogo estendido pela janela
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