Estava colhendo lírios... sempre gostei de colher lírios. Desde de meus oito e nove anos eu era assim, vivia colhendo lírios. Me descrever seria difícil nessa época, afinal eu era um menino pequeno, franzino, fechado e tímido (até hoje contínuo desse jeito, embora mais aberto e mais dinâmico). Meus cabelos eram curtos, pequenos e acastanhados, e eu vivia entre a casa de vovó e o muro semi construído, pois era ali que eu colhia os mais belos lírios que já vi em minha vida. Colher lírios era uma aventura, algo que me deixava contente. É difícil dizer hoje o que deixa contente uma criança semi-alfabetizada gostar de colher, pegar, sentir, cheirar um lírio. Uma flor sem valor, uma flor estrangeira... Uma flor trazida por estrangeiros... uma flor sem valor. "Para que colhes flor?", riam-se de mim, "Colho porque as amo, me fazem bem". "Lembre-se que um dia você foi beijar uma formiga e ela lhe cortou os beiços? Lembrou?", "é diferente... uma flor cheira, não tem ferrão na boca. EU amo flores", e então vinha o match point da conversa: "Menino doido!". Ser magoado por gostar da natureza... então eu fiquei triste, e ia colher lírios, ia me consolar junto aos lírios, chorar junto a eles, e cheirando-os eu ouvia e sentia seus conselhos para minha alma triste e solitária. Apenas ouvir, sentir o que é agradável sem jamais mostrar; e então me escureci de sentimentos e pela primeira vez notei: por gostar de colher lírios, eu já fui considerado um louco.
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