quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Marianne Moore


marianne estudou células, tecidos, a lógica silenciosa da vida,

cada órgão, cada veia, cada minúsculo músculo

sob o microscópio,

como se o mundo inteiro pudesse caber

num único olhar atento.


ela escreveu versos

com a mesma precisão de quem mede sangue,

anota temperaturas, classifica espécies,

mas as palavras não eram dados —

eram órgãos que respiravam,

nervos que vibravam,

linhagens que continuavam.


meu tio vanderley de ataide,

formado em sua própria ciência prática,

faz óculos que não apenas emolduram olhos,

mas constroem universos:

vidros que filtram o sol,

armaduras que suavizam o vento,

pontes que aproximam o mundo da visão.


assim como marianne,

cada gesto dele é medida, consciente, delicada;

cada lente, cada armação

é um poema em vidro e metal.

a mão que segura a lima

tem a paciência de quem observa uma célula

ou escolhe a palavra certa para um verso.


marianne olhava para o microscópio

e via o mundo inteiro;

vanderley olha para o vidro e vê o rosto de quem usa,

a luz atravessando, dobrando-se,

mostrando cores que só existiriam

com sua intervenção.


eles partilham uma disciplina sutil,

uma devoção ao detalhe,

uma reverência silenciosa pelo que existe

e pelo que pode ser revelado.

um poeta e um artesão,

cada um em seu laboratório,

cada um dando forma à visão,

cada um mostrando ao mundo

que cuidado é também beleza,

e precisão, também poesia.



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