quarta-feira, 6 de agosto de 2025

As janelas

 Fechei a porta,

e não entrou a eternidade

por ela.

Eu poderia gritar

ai, de mim,

se poderia.

Hoje estou

com os ossos doloridos.

Amanhã serei apenas

um esquelento enterrado

dentro de um caixão.

Será que morto sente dor?

Penso nos cabelos cinzentos

dos antigos poetas russos.

Pasternak, Maiakóvsky.

Onde será que foram todos?

Estarão escondidos nas estrelas

juntos de Moisés e Deus?

Agora estou gemendo.

Lá forá existe uma lua

estranha e densa.

É a mesma lua de sempre.

A mesma lua branca, que parece

mais um pedaço de trapo

estendido no céu.

A natureza é de uma violência

digna de pena.

Quem criou esse mundo digno

de ódio?

Quem criou essas pessoas amargas,

esses selvagens demonios,

foste tu, Senhor, foste tu,

aquele eterno que pendurou o próprio filho

no madeiro (ou será que o filho

eras tu mesmo?).

Que enigmático dilema.

Amanhã, se eu não levantar da cama,

nem abrir os olhos,

não esqueçam camaradas,

de abrirem as janelas.

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