POEMAS PARA CONTAR PARA ALGUÉM OU PARA NINGUÉM
1
Vou escrever por escrever, sem ter
menção alguma de glória ou prémios.
Vou escrever para molhar as palavras
com as águas e os sulcos de minha boca.
2
O vento que senti um dia pelos cabelos
cabelos grandes que eu tinha me
deram a esperança de existir um
Deus silvestre que pudesse me
dar uma maçã para matar a minha
eterna fome de felicidade.
3
Os grilos me irritam. Há outras coisas também
nesse mundo que me deixa grilado:
o barulho, pessoas que falam de mais,
o calor insuportável, queimaduras nos dedos.
Ai de mim, porque fui nascer poeta?
4
A lua é um mistério em cima do céu.
Eu não me importo com nenhum mistério.
Sejamos francos, não quero saber
o sentido da vida, não tô afim de saber
de onde Deus vem, não quero ser santo,
detesto gente chata. O mais chato
é o chato que escreve sobre o mistério.
Então, eu sou esse chato do mistério.
5
O mundo pode ser um cavalo,
o mundo pode ser uma pulga,
o mundo pode ser drummond,
o mundo pode ser uma cigarra,
o mundo pode ser uma árvore,
o mundo pode ser um livro,
o mundo pode ser uma poesia,
o mundo pode ser um nada,
o mundo pode ser, eu acho.
6
O sol nasceu, o galo cantou,
a janela fechada esconde rostos de pessoas que eu não conheço.
Meu Deus, dentro de um ônibus eu nem sei o nome do motorista
que me leva para o serviço.
Isso dá medo.
7
Estou tomando chá,
e se eu pudesse gostaria de um miojo.
Será que isso é poesia?
Etâ vida besta meu Deus.
8
Meu sonho era ser rico, muito rico, podre de rico.
Fiz a vida gargalhar com isso.
Nasci sem roupa, sem dentes, sem cabelos e chorando.
E, supra suma da humilhação: meu pinto era minusculinho.
9
O passarinho que cantou apaixonado pela rosa pousou suavemente em seus espinhos.
10
esse é o poema final.
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